sábado, 7 de novembro de 2015

PANCHO MIRANDA GUEDES 1925-2015


Morreu o Pancho. A notícia, seca, chegou depois do jantar. Pancho, como era conhecido o arquitecto Amâncio d’Alpoim Miranda Guedes, nasceu em Lisboa mas viveu em Moçambique desde criança: ainda não tinha 7 anos quando chegou a Lourenço Marques. Formou-se em arquitectura na Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, mas o Estado Novo obrigou-o a vir a Portugal homologar a licenciatura. Viveu na capital de Moçambique entre 1932 e 1975, ano em que representou Moçambique na Bienal de Veneza. São de sua autoria algumas das obras mais emblemáticas de Lourenço Marques, como acontece com os edifícios de habitação Dragão (1951), Prometheus (1951), Leão Que Ri (1956), Tonelli (1958), Simões Ferreira (1962), Parque (1974) e outros, os edifícios de escritórios Mann George (1952), Abreu (1953), Spencer & Lemos (1953) e Octavio Lobo (1967), os últimos três formando gaveto na Praça Mac Mahon, as casas Matos Ribeiro (1952), Gonzaga Gomes (1955) e outras, a Fábrica de Pão Saipal (1954), o mítico restaurante Zambi (1954), o Colégio dos Irmãos Maristas (1955), o Cinema Infante (1963), o Convento de São José de Lhanguene (1967), a Escola de Enfermagem do Hospital Miguel Bombarda (1969), a Igreja Anglicana de São Cipriano do Chamanculo (1970), mas também obras fora da cidade, como por exemplo o Instituto Agrário de Boane, concluído em 1975. A minha geração passou noites homéricas no bar do Hotel Polana, que ele “reinventou” no fim dos anos 1950, sem beliscar a patine do hotel que Hugh Le May construiu em 1921. Foi com ele que aprendi a olhar para a paisagem urbana. Além de arquitecto foi escultor e pintor, estando representado em museus um pouco por toda a parte. Viveu na África do Sul nos últimos 40 anos, com um breve intervalo (1996-97) em Lisboa. Na zona de Colares (Sintra) fica o Casal dos Olhos, por todos conhecido como “a casa de Pancho Guedes na Eugaria”. A partir dos anos 1980, retrospectivas da sua obra foram apresentadas em Joanesburgo, Londres, São Paulo, Maputo e Lisboa. Leccionou na Witts (Joanesburgo) e, por breves períodos, em Los Angeles, Haifa e Lisboa. A sua morte é uma perda para a Cultura portuguesa. Tinha 90 anos.