Hoje na Sábado escrevo sobre Porquê Ler os Clássicos?, de Italo Calvino (1923-1985), o italiano que nasceu em Cuba. Com mais de duas dúzias de títulos publicados no nosso país, tornou-se um autor familiar. Porquê Ler os Clássicos?, obra póstuma, está de regresso às livrarias. Organizada por Esther Calvino, esta colectânea de ensaios literários vai de Homero a Queneau, sem esquecer Ariosto, Balzac, Conrad, Diderot, Flaubert, James, Ovídio, Plínio, Stendhal, Tolstói e outros. A premissa é de meridiana clareza: «Um clássico é um livro que nunca acabou de dizer o que tem a dizer.» O estafado clichê do «Estou a reler…» por oposição a «Estou a ler…», leva o autor a discretear com ironia no texto de abertura. Dos ensaios pode dizer-se que são notáveis. Destaco dois: Pasternak e a revolução, texto de 1958 que não perdeu actualidade nem heterodoxia (suponho que o PCI terá franzido o sobrolho à natureza das conclusões de Calvino); e A cidade-romance em Balzac, de 1973, com enfoque no Ferragus do mestre da comédia humana. Acompanhar o raciocínio crítico de um grande criador é sempre um desafio. Cinco estrelas.