José Pacheco Pereira, hoje no Público. Excertos, sublinhados meus:
«[...] Não penso que sejam os indecisos entre votar PS ou PAF que vão decidir os resultados, porque não há praticamente indecisos a não ser como alínea das sondagens [...] Digo isto porque penso que não são os indecisos que vão formar opinião com os debates, são, quando muito, os abstencionistas por zanga, e zanga é a palavra exacta. Se o PS ou o PAF conseguirem mobilizar um número significativo destes abstencionistas zangados, desatam o nó do empate, mesmo que isso não seja suficiente para a existência de uma maioria absoluta. [...] O Portugal que eles vêem é aquele que se tornou invisível no actual discurso eleitoral da “retoma”, como se tivesse desaparecido do mapa, ou sequer diminuído na sua dimensão e gravidade.
E o Portugal que eles vêem pode ser mais deprimente e menos exaltante do que aquele que as notícias “positivas” mostram, mas é mais verdadeiro. Se o PAF ganhar, é nesse Portugal que vamos acordar no dia 5 de Outubro, como se tivesse caído um enorme cenário que nos tapasse a realidade. Se o PS perder, é porque falhou a estes portugueses, aqueles que de melhor política precisavam, porque são os que mais têm a perder. Porque são os que mais estão a perder. Depois admiramo-nos por estarem zangados? É por isso que os resultados eleitorais vão depender do Portugal que está mais vivo na experiência de cada um. Se, e só se, estes portugueses zangados com o mundo votarem. Como muitos perderam e só poucos ganharam, como muitos perderam muito e os poucos que ganharam ganharam muito, colocar estes zangados na apatia cívica e usar o seu desespero para os atirar para um gueto antipolítico é um programa de quem não quer mudar nada.
É também por isso que o amorfismo, o adormecimento, a apatia, o futebol no dia das eleições, o circo todos os dias até lá, são armas decisivas da coligação para ganhar as eleições.»