quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

FUTUROS CLÁSSICOS?


Hoje na Sábado

Nem sempre acontece, mas o ano que agora termina foi pródigo na edição de livros que podem vir a tornar-se clássicos. Estamos a falar de poesia, ficção, biografia e História. Do que li gostaria de destacar oito títulos.

Um deles é Poemas, reunião da poesia completa de António Franco Alexandre, oportunidade para nos deixarmos absorver pelo estranhamento desta poesia sem predecessores em língua portuguesa: «Vamos a ver se dois incêndios se juntam, / se a folha do corpo fica a arder. / Os dentes que riem, saberão morder?» Outro é o primeiro volume de uma trilogia sobre a América contemporânea, Encruzilhadas, de Jonathan Franzen. A família Hildebrandt pode não ter glamour, mas só um escritor com o fôlego de Franzen podia dar-nos um épico desta natureza. Noutro registo, Maggie O’Farrell demonstra que Shakespeare é um personagem em aberto, servindo-se da morte precoce do filho do bardo para escrever Hamnet, romance centrado na vida de Anne Hathaway. Mas também Paul Auster, que resgata a vida e obra de Stephen Crane, um gigante da literatura norte-americana do século XIX, na monumental biografia a que deu o título de Um Homem em Chamas. Por falar em biografias, não podemos ignorar a de Philip Roth escrita por Blake Bailey, desassombrado registo de uma época e seus temas-fétiche. Ainda no domínio da compreensão do outro, a História dos Povos Árabes de Albert Hourani, historiador britânico de origem libanesa, finalmente traduzida e actualizada, é indispensável para entender o mundo árabe. Entretanto, numa altura em que foi tudo escrito sobre disfunções (sexuais e outras), a holandesa Marieke Lucas Rijneveld consegue surpreender-nos com O Desassossego da Noite. Por último mas não em último, Trilogia de Jon Fosse, volume que colige três novelas, traduzidas directamente do norueguês por Liliete Martins, que respeita a peculiar pontuação (ou falta dela) do autor. Rompendo mais uma vez com os modelos convencionais, Fosse não abdica de construir uma linguagem própria.

António Franco Alexandre, Poemas / Assírio & Alvim

Jonathan Franzen, Encruzilhadas / Dom Quixote

Maggie O’Farrell, Hamnet / Relógio d’Água

Paul Auster, Um Homem em Chamas / Asa

Blake Bailey, Philip Roth / Dom Quixote

Albert Hourani, História dos Povos Árabes / Book Builders

Marieke Lucas Rijneveld, O Desassossego da Noite / Dom Quixote

Jon Fosse, Trilogia / Cavalo de Ferro

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