sábado, 12 de outubro de 2019

GENTLEMEN'S AGREEMENT


Meio mundo atordoado com o alegado fim da coisa G. Não percebo.

As pessoas esqueceram-se do que se passou em Novembro de 2015. Os acordos assinados entre o PS, o BE, o PCP e o PEV foram uma exigência de Cavaco.

Convencido da inexequibilidade de um protocolo formal, o homem de Boliqueime julgou, desse modo, entalar Costa. Sem papéis assinados, não permitiria um Governo liderado pelo PS.

Passos continuaria em gestão (o XX Governo Constitucional foi chumbado a 10 de Novembro de 2015, onze dias após tomar posse) até que um novo Presidente da República pudesse dissolver o Parlamento, ou seja, no termo dos primeiros seis meses de mandato.

Enganou-se. PS, BE, PCP e PEV assinaram o que cada um decidiu (não existiu texto comum), Cavaco empossou Costa com azedume e um tom de acrimónia indigno do cargo que ocupava, e o PS governou a legislatura inteira com o apoio parlamentar dos partidos à sua esquerda.

O que se passou agora foi outra coisa. O PS falou com o BE, o PCP, o PAN, o PEV e o LIVRE. E só o BE se mostrou disponível para assinar um acordo. Nestas circunstâncias, que sentido faria manter a coisa G.? Pura ficção.

Um acordo PS-BE seria o equivalente a uma coligação informal, deixando os outros numa segunda linha descartável.

Portanto, bem andou o PS em exarar o óbvio: não haverá acordo escrito com nenhum partido, serão negociadas caso a caso as propostas de Orçamento, bem como todas as que sejam relevantes para a estabilidade governativa.

Entre pessoas de bem, um gentlemen's agreement tem valor de lei.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

ESCOLHA CERTA


Por decisão da Comissão Política Nacional do PS, reunida ontem à noite, António Costa esclareceu a posição do partido:

«Serão negociadas as propostas de orçamento do Estado e todas as que sejam relevantes para a estabilidade governativa. Não haverá acordo escrito com nenhum partido

O primeiro-ministro indigitado foi entretanto mandatado para proceder à formação do novo Governo.

Clique na imagem do Expresso.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

A TERAPEUTA E O ADMIRADOR DE MILOSEVIC


Foram hoje atribuídos os prémios Nobel da Literatura relativos a 2018 e 2019.

Olga Tokarczuk, polaca, 57 anos, antiga terapeuta, venceu o de 2018. A sua escolha prova que o Nobel da Literatura não é para levar a sério.

Peter Handke, austríaco, 76 anos (em Dezembro fará 77), romancista, contista, ensaísta, dramaturgo, argumentista e cineasta bissexto (colaborou com Wim Wenders), venceu o de 2019. Handke é conhecido pelo seu apoio ao nacionalismo sérvio de extrema-direita. Para escândalo das nações civilizadas, discursou no funeral de Slobodan Milošević. A imprensa nórdica considera-o fascista. A sua candidatura ao Prémio Heinrich Heine, em 2006, teve que ser retirada. E, em 2014, a atribuição do Prémio Internacional Ibsen provocou demissões no júri, foi condenada pelo PEN norueguês, e levou Bernt Hagtvet, professor emérito de ciência política da Universidade de Oslo e membro da Academia Norueguesa de Ciências e Letras, a considerar a decisão «um escândalo sem precedentes».

Este ano, a Academia sueca convidou cinco “especialistas externos” para, juntamente com os académicos, participarem na escolha. Em 2020 também será assim. Os convidados foram dois escritores (Gun-Britt Sundström e Kristoffer Leandoer) e três críticos literários: Mikaela Blomqvist, Henrik Petersen e Rebecka Kärde. Ms Kärde tem 27 anos.

Como se recordam, o Nobel da Literatura foi cancelado após o escândalo que envolveu a poeta sueca Katarina Frostenson, o membro mais influente da Academia Real, casada com o fotógrafo francês Jean-Claude Arnault, acusado de assédio sexual por dezoito mulheres (e de ter violado duas), além de alegadamente ter vendido informação da Academia a casas de apostas.

Ao fim de seis meses de rumores, o escândalo rebentou em Novembro de 2017, levando à demissão voluntária de vários membros da Academia, que ficou sem quorum. A eleição de novos membros esteve bloqueada durante um ano, mas o rei Carlos XVI Gustavo empenhou-se pessoalmente em resolver o litígio que só ele podia resolver. Tudo ficou resolvido em Março passado.

Entretanto, por decisão do Tribunal de Recurso de Estocolmo, Jean-Claude Arnault foi condenado a 30 meses de prisão efectiva, pela violação de duas mulheres, em instalações da Academia. Já este ano, a poeta Katarina Frostenson aceitou demitir-se, mas vai receber uma tença mensal vitalícia, embora tenha ficado provado que, durante vários anos, passou ao marido informação confidencial sobre os nomeados mais importantes e o nome do “escolhido”.

Anders Olsson, escritor, crítico literário, membro da Academia e seu secretário-geral, anunciou a intenção da Academia abandonar a perspectiva eurocêntrica e “masculina” na escolha dos laureados.

Nas imagens, Tokarczuk e Handke. Clique.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

DRAWING ROOM


Abre hoje na Sociedade Nacional de Belas Artes. Pensado e organizado por Ivânia Gallo. Hoje apenas para convidados, de amanhã a domingo para o grande público.

Clique na imagem.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

COSTA INDIGITADO


Tendo em conta os resultados eleitorais e ouvidos todos os partidos com representação na nova Assembleia da República, o Presidente da República indigitou hoje António Costa como primeiro-ministro do XXII Governo Constitucional.

Clique na imagem.

IDENTIDADES


Todos sabemos que a extrema-direita não gosta de políticas de género nem reconhece a natureza das identidades étnicas e sexuais.

Surpresa foi descobrir que pessoas sensatas desatinaram com o facto de ter escrito que, 45 anos após o 25 de Abril, o Parlamento terá pela 1.ª vez quem defenda os interesses específicos da comunidade negra residente em Portugal.

Joacine Katar Moreira, Beatriz Gomes Dias e Romualda Fernandes, eleitas, respectivamente, nas listas do LIVRE, do BE e do PS, são mulheres negras. A primeira fez campanha nessa qualidade. As outras passaram relativamente despercebidas, embora Romualda Fernandes, do PS, tenha divulgado a mensagem recebida de uma amiga:

«A partir de agora nós, mulheres negras, cada vez que olharmos para a escadaria da Assembleia da República não nos iremos ver apenas com baldes e esfregonas para limpar: estamos lá dentro, temos voz e podemos sonhar

A eleição destas três mulheres permite mudar o paradigma da representação parlamentar. Assim estejam à altura do que se espera delas.

Verdade que, nos últimos 44 anos, passaram pela AR alguns deputados negros. Mas nunca vimos nenhum preocupado com os vários tipos de discriminação (sobretudo no emprego e na habitação) e os problemas específicos da comunidade que deviam representar.

Portanto não se trata de terem passado por São Bento o deputado A ou o deputado B. Anteontem tratou-se de eleger pessoas que têm o compromisso de lutar por causas concretas.

O mesmo se diga de homossexuais e lésbicas. Interessa pouco saber se há 10 ou 20 deputados/as gays... se uns e outras continuarem, como continuam, no armário.

Em 2009, Miguel Vale de Almeida foi eleito deputado nas listas do PS e, no Parlamento, lutou pela legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, pela possibilidade de casais gays adoptarem crianças, por políticas de identidade de género, etc. Em 2015, Alexandre Quintanilha foi eleito deputado nas listas do PS sem fazer segredo do facto de ser casado com o escritor Richard Zimler. Em 2017, Graça Fonseca, actual ministra da Cultura, assumiu publicamente ser gay quando já era secretária de Estado. Em 2018, Adolfo Mesquita Nunes, então vice-presidente do CDS, assumiu publicamente a sua homossexualidade. Nenhuma destas personalidades precisa de fazer proselitismo. Mas o gesto que os une tem simbolismo e eficácia pedagógica.

Portanto, nunca como hoje foi tão importante a afirmação de identidade. Não estamos a falar de moda, mas do nosso quotidiano.

Na imagem, da esquerda para a direita, Joacine Katar Moreira, Beatriz Gomes Dias e Romualda Fernandes. Clique.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

NOTAS SOLTAS


No essencial, o conjunto das sondagens publicadas até 4 de Outubro aproximou-se da realidade. Não se pode dizer o mesmo das sondagens à boca das urnas, com números delirantes.

A excepção foi a do ICS/ISCTE para a SIC. Correcta.

A RTP fez uma cobertura passional dos resultados. Lamentável.

A triagem “fina” dos resultados, concelho a concelho, demonstra que Lisboa é uma coisa e o resto do país outra.

A anunciada subida do BE não se concretizou. O partido de Catarina Martins perdeu cerca de 58 mil votos, limitando-se a manter os deputados eleitos em 2015.

Assunção Cristas, a mulher que andou quatro anos a dizer (sem se rir e quase sempre de mão na anca) que ia ser primeira-ministra, assumiu cedo a derrota e declarou ir abandonar a liderança do CDS.

Rui Rio evitou a implosão do PSD, mas o partido foi derrotado em toda a linha. Por junto, a PAF perdeu cerca de 350 mil votos e 22 deputados (mas só 9 eram do PSD). É obra, mas 27,9% é muito mais do que conseguiria a tropa fandanga do passismo. O pior foi o discurso borderline.

Ainda Rio: com tanto ódio acumulado na Invicta, obteve um resultado respeitável [15 vs 17 deputados] na cidade de que foi edil.

Ao fim de 24 anos no Parlamento, Heloísa Apolónia, do PEV, não conseguiu ser eleita.

Os 39 mil votos do ALIANÇA não foram suficientes para eleger Santana Lopes.

Marinho Pinto não conseguiu eleger o Pardal.

António Costa fez um discurso muito longo. O mesmo se diga de Rio e outros. Uma velha pecha portuguesa.

Clique na imagem do Público.

VAMOS A CONTAS


Quatro anos de imprensa marrom ou, se preferirem, de yellow journalism, não foram suficientes para impedir a vitória do Parido Socialista.

Sem contar com os votos dos emigrantes, ainda por apurar:

— O PS ganhou mais 124.395 votos e elegeu mais 21 deputados.
— A PAF [PSD+CDS] perdeu 344.458 votos e 22 deputados.
— O PSD perdeu 9 deputados.
— O CDS perdeu 13 deputados.
— O BE perdeu 57.391 votos mas manteve os 19 deputados.
— A CDU [PCP+PEV] perdeu 115.838 votos e 5 deputados.
— O PEV manteve dois deputados.
— O PAN ganhou 92.102 votos e elegeu mais 3 deputados.
— O CHEGA, de extrema-direita, elegeu um deputado (66.442 votos).
— A IL também elegeu um deputado (65.545 votos).
— O LIVRE conseguiu eleger um deputado (55.656 votos)

ESQUERDA = 142 deputados / DIREITA = 84

Os 4 deputados da emigração devem ser repartidos [2+2] pela Esquerda e pela Direita.

Juntos, o BE e a CDU perderam 173.229 votos.

A abstenção foi de 45,5%. Maior que em 2015 (44,1%) mas longe das previsões das sondagens.

Grande surpresa da noite, a eleição do deputado da Iniciativa Liberal, um partido do Norte (eixo Porto-Braga).

Finalmente, 45 anos após o 25 de Abril, a comunidade negra residente em Portugal terá deputados — neste caso três deputadas — negros a defender os seus interesses. Os outros que por lá passaram nunca assumiram essa condição.

Ainda é cedo para fechar o balanço, mas, para já, foram eleitos sete deputados assumidamente gays: quatro homens e três mulheres.

Clique na imagem do ministério da Administração Interna.

PS VENCEU


Vitória clara do PS, com todas as freguesias apuradas, faltando apenas contar o voto dos emigrantes, que representam quatro mandatos, dois dos quais (no mínimo) serão previsivelmente atribuídos ao PS.

A imagem apenas mostra os partidos que obtiveram representação parlamentar:

PS = 106 / PSD = 77 / BE = 19 / CDU = 12 / CDS = 5 / PAN = 4 / CHEGA = 1 / IL = 1 / LIVRE = 1

Clique na imagem do ministério da Administração Interna.

domingo, 6 de outubro de 2019

NOITE DE VITÓRIA


Celebrar a vitória com amigos. Clique na imagem.

LEGISLATIVAS


Para as eleições de hoje estão recenseados 10,8 milhões de portugueses, mais 1,1 milhão do que em 2015.

O voto dos emigrantes triplicou. O voto antecipado, em Portugal, idem.

É necessário inverter a tendência abstencionista: nas legislativas de 2015 abstiveram-se 44,14% dos eleitores. Hoje era bom que, pelo menos, dois terços dos eleitores votassem. Quem não vota não tem direito a protestar.

Não gostam do Governo? Têm 20 alternativas. Concorrem 21 partidos, quinze dos quais em todos os círculos. O importante é votar.

Clique na imagem: Costa a descer o Chiado, anteontem, vendo-se (entre outros), da esquerda para a direita, Mário Centeno, Fernando Medina, Carlos César, Ferro Rodrigues, Jamila Madeira e o primeiro-ministro António Costa.