sábado, 3 de agosto de 2019

FMI


Kristalina Georgieva, a búlgara que Guterres derrotou na corrida à liderança da ONU, será a próxima directora-geral do FMI, em substituição de Christine Lagarde.

Mas antes disso vai ter de ser alterada a lei orgânica do Fundo, que inibe tomadas de posse a partir dos 65 anos, e Georgieva faz 66 no próximo dia 13.

Detalhe curioso: foi eleita com 55% dos votos, mas os estatutos obrigam a 65%. Face a um possível impasse, o FMI aceitou o resultado.

Doutorada por Harvard, actualmente directora executiva do Banco Mundial, a cujo quadro pertence desde 1993, Georgieva entrou na alta-roda da política internacional em 2007, ao assumir o cargo de directora do Desenvolvimento Sustentável do Banco Mundial. Foi comissária da UE para o Orçamento e Recursos Humanos entre 2014 e 2016.

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ALARMISMO


O agitprop alarmista em torno da provável greve dos motoristas de matérias perigosas (a pretexto dos salários de 2022), com início previsto para o próximo dia 12, é uma manobra infame.

É uma mentira grosseira dizer que há postos sem combustíveis. Num posto onde estive, o responsável explicou: «Assim que o nosso depósito chega a 30%, pedimos imediatamente reforço. Se fizermos o pedido até às quatro da tarde, o reforço é feito no próprio dia

Portanto não vale a pena inventar histórias de famílias munidas de jerrycans (como disse uma mulher na televisão) e de postos a zero.

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sexta-feira, 2 de agosto de 2019

MIRÓBRIGA


Visitei ontem pela primeira vez as ruínas da cidade romana de Miróbriga (século II a.C), na periferia de Santiago do Cacém.

O interior do museu, inaugurado em 2000, continua em bom estado de manutenção. Mas a antiga cidade romana, espalhada por mais de dois quilómetros quadrados, é pouco mais que um matagal. Sirva de exemplo o que resta da fachada do Templo de Vénus, na imagem ao alto. É uma pena.

Já sabemos que o Estado não tem dinheiro, mas a autarquia devia esforçar-se por arranjar apoios privados. Com ingressos a três euros (séniores e estudantes pagam metade), nem verba há para limpar (repito: limpar) a grelha de ripas da fachada do edifício do museu. Lamentável.

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quinta-feira, 1 de agosto de 2019

BOA NOTÍCIA


Centeno autoexcluiu-se da votação, a realizar amanhã, para o cargo de director-geral do FMI.

Os nomes dos seus (e das suas) putativos substitutos à frente do ministério das Finanças não eram tranquilizadores. E o PS não deve partir para eleições sem um activo da sua envergadura.

Na imagem, tuíte em que o ministro explica a decisão. Clique para ler melhor.

LIMA & COHEN


Hoje na Sábado escrevo sobre o volume de Obra Reunida de Manuel de Lima (1915-1976), o escritor, musicólogo, crítico e artista plástico a quem chamavam o careca evidente. Hoje quase ninguém se lembra dele. Depois de se formar no Conservatório de Lisboa, Manuel de Lima foi violinista de salão em navios da marinha mercante das carreiras de África e do Brasil. A carreira literária é posterior. Mas o exílio na Venezuela contribuiu para o descaso. Os contos que escreveu foram agora coligidos em Obra Reunida, volume de apuro irrepreensível, como são por regra os que saem das mãos de Vladimiro Nunes. Surrealista mal amado pela crítica, Lima deixou obra escassa. Estreado em 1944 com o conto Um Homem de Barbas, prefaciado por Almada Negreiros (a reedição de 1973 acrescentou novos contos), publicaria mais tarde Malaquias ou a História de Um Homem Barbaramente Agredido (1953), A Pata do Pássaro Desenhou uma Nova Paisagem (1972) e a novela O Clube dos Antropófagos (1973), que começara por ser, em 1965, uma peça de teatro. Não confundir com a peça escrita em co-autoria com Natália Correia — Sucubina ou a Teoria do Chapéu, 1952 —, omissa do presente volume. A vida errática terá contribuído para o afastar dos círculos dominantes. Depois de anos de ligação amorosa, zangou-se com Natália Correia. Almada Negreiros também se afastou depois do patrocínio inicial. O grupo do Café Gelo desfez-se. Com Cesariny e Luiz Pacheco manteve sempre uma relação bipolar. Os panfletos incomodaram muita gente. João Gaspar Simões e Óscar Lopes, gurus da crítica, não gostavam dos seus livros. Absurdizante, diziam. Era demasiado humor negro e nonsense para os hábitos indígenas. Por fim, a partida para a Venezuela “apagou-o” da vida literária portuguesa. Além dos quatro livros, o volume inclui uma extensa e muito esclarecedora introdução de Vladimiro Nunes (com Luiz Pacreco, editor e amigo de Lima, no papel de deep throat…), retratos, desenhos, correspondência, fac-símiles de manuscritos, da certidão de nascimento e do assento de óbito, bem como reproduções de pinturas suas que fazem parte do espólio do Museu Carlos Machado, de Ponta Delgada. Este belo volume resgata do esquecimento a obra e a vida deste surrealista esquecido. Quatro estrelas. Publicou a Ponto de Fuga.

Escrevo ainda sobre Chama, o livro póstumo de Leonard Cohen (1934-2016). Muita gente nunca terá tido a noção exacta, mas este canadiano de origem judaica não foi só um cantor extraordinário. É também um grande poeta do amor e do desespero. Além de dois romances, publicou quinze colectâneas de poemas. «Escrever era a sua razão de ser», lembra o filho, Adam, que editou o livro e assina o prefácio. Chama é um testamento: o volume colige poemas, desenhos, autoretratos corrosivos, canções, versos dispersos, entradas de diário, fac-símiles e o discurso de aceitação do Prémio Príncipe das Astúrias, que recebeu em 2011. Existe índice de poemas e letras. À laia de apêndice, os versos originais estão agrupados a partir da página 301. Poeta, escreveu versos que ficaram gravados na nossa memória: «Tive de enlouquecer para te amar / Tive de descer até ao abismo […] Tive de ser pessoas que odiava / Tive mesmo de não ser ninguém». Sim, a voz, inconfundível, faz falta. Mas só faz falta porque não nos esquecemos. Cinco estrelas. Publicou a Relógio d’Água.

quarta-feira, 31 de julho de 2019

PADEIRO VS MANICURE

Noto que a defesa de género, da sua dignidade, não entrou no folhetim das golas. E devia. Porque mete um alegado padeiro.

Explico: se em vez de um padeiro fosse uma manicure, as manchetes e o comentariado universal fariam pontaria a ligações de natureza passional. Como é que a gaja lá chegou...? É fácil adivinhar os adjectivos se fosse uma mulher a saltar das profissões proletárias para um gabinete ministerial...

Mas como é homem, a possibilidade não se lhes colocou.

Isto não tem importância nenhuma. Prova apenas o óbvio.

MULTIDADOS


Esta sondagem da Multidados divulgada ontem à noite pela TVI coloca o PAN à frente da CDU.

Já não me admiro com nada. Por norma, em Portugal vota-se contra, raramente a favor. Um bom exemplo: dois terços dos meus amigos e conhecidos de Direita vota no BE, não porque concorde com a ideologia bloquista, mas para, dizem eles, impedir a vitória do PS. Começaram a fazer isso em 1975 com o PCP e o MDP-CDE. E nos últimos dez anos fazem com o BE. 

Em todo o caso, uma maioria de Esquerda de 55,8%. E o PS com mais 15,2% que o PSD.

A confirmarem-se as sucessivas sondagens, o CDS passa a partido tuk-tuk.

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domingo, 28 de julho de 2019

MANTRA

Por que carga de água toda a gente começou de súbito a especular nos media sobre a  muito previsível maioria absoluta do PS?

Os estudos de opinião mais favoráveis oscilam entre 38 e 40%. Ora, pelo método de Hondt, a maioria absoluta obtém-se algures entre 44 e 45% (conforme a distribuição dos votos). Salvo se — a ressalva é decisiva — o primeiro partido obtiver o dobro do segundo. Seria preciso o PSD não passar de 21 ou 22%.

Eu sou a favor de maiorias absolutas (o Tribunal Constitucional existe para lhes pôr travão, como aconteceu nos ominosos anos passistas), o PS merecia, mas não me parece que isso vá acontecer.