Todos os anos, sempre que é atribuído o Prémio Pessoa, alguém sugere que o vencedor devia ou podia ter sido outro/a. Em 1987, quando surgiu, não havia redes sociais. Nessa altura, o jornalismo cultural (que ainda existia) dava palpites. Hoje toda a gente se sente habilitada a invectivar a escolha do júri.
Mas há um detalhe em que pouca gente terá reparado: o Prémio Pessoa não é um prémio de consagração, é um prémio que visa dar visibilidade a pessoas ou instituições que se tenham distinguido na vida científica, artística ou literária. Dito de outro modo, não é para “consagrados” como tal reconhecidos pela opinião pública. Destina-se «a pessoas que não têm uma obra terminada, de quem se espera continuidade no seu trabalho.»
Justamente por não ter “consagrados” como alvo, não se percebe — ou percebe-se demasiadamente bem — que tenha sido atribuído a José Mattoso (1987), António Ramos Rosa (1988), Maria João Pires (1989), Menez (1990), Fernando Gil (1993), Herberto Helder (1994, recusou), Vasco Graça Moura (1995), José Cardoso Pires (1997), Manuel Alegre (1999), Emmanuel Nunes (2000), Mário Cláudio (2004), Luís Miguel Cintra (2005), Eduardo Lourenço (2011) e Rui Chafes (2015). Por feliz coincidência admiro estas catorze personalidades. Mas a minha admiração não é para aqui chamada.
A tendência parece estar a mudar. Um prémio que começou por caucionar o já caucionado, fixando o crème de la crème da nomenklatura nacional, aposta hoje em valores seguros que ainda não acederam ao Panteão. O arquitecto Manuel Aires Mateus (2017), o geógrafo Miguel Bastos Araújo (2018), bem como o actor e encenador Tiago Rodrigues (2019), são três bons exemplos.