sábado, 19 de setembro de 2015

DISCURSO DIRECTO, 16

José Pacheco Pereira, hoje no Público. Excertos, sublinhados meus:

«[...] Não penso que sejam os indecisos entre votar PS ou PAF que vão decidir os resultados, porque não há praticamente indecisos a não ser como alínea das sondagens [...] Digo isto porque penso que não são os indecisos que vão formar opinião com os debates, são, quando muito, os abstencionistas por zanga, e zanga é a palavra exacta. Se o PS ou o PAF conseguirem mobilizar um número significativo destes abstencionistas zangados, desatam o nó do empate, mesmo que isso não seja suficiente para a existência de uma maioria absoluta. [...] O Portugal que eles vêem é aquele que se tornou invisível no actual discurso eleitoral da “retoma”, como se tivesse desaparecido do mapa, ou sequer diminuído na sua dimensão e gravidade.

E o Portugal que eles vêem pode ser mais deprimente e menos exaltante do que aquele que as notícias “positivas” mostram, mas é mais verdadeiro. Se o PAF ganhar, é nesse Portugal que vamos acordar no dia 5 de Outubro, como se tivesse caído um enorme cenário que nos tapasse a realidade. Se o PS perder, é porque falhou a estes portugueses, aqueles que de melhor política precisavam, porque são os que mais têm a perder. Porque são os que mais estão a perder. Depois admiramo-nos por estarem zangados? É por isso que os resultados eleitorais vão depender do Portugal que está mais vivo na experiência de cada um. Se, e só se, estes portugueses zangados com o mundo votarem. Como muitos perderam e só poucos ganharam, como muitos perderam muito e os poucos que ganharam ganharam muito, colocar estes zangados na apatia cívica e usar o seu desespero para os atirar para um gueto antipolítico é um programa de quem não quer mudar nada.

É também por isso que o amorfismo, o adormecimento, a apatia, o futebol no dia das eleições, o circo todos os dias até lá, são armas decisivas da coligação para ganhar as eleições

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

EUROSONDAGEM


Eurosondagem para o Expresso. Clique na imagem.

A HORA DOS MERCEEIROS

Passo os olhos pelos jornais da manhã e confirmo o óbvio: o espírito de merceeiro tomou conta dos media. De uma vez por todas: um primeiro-ministro (e, por maioria de razão, um candidato ao cargo) não tem de saber de cor os números das rubricas orçamentais. Para isso existem os assessores económicos, os directores-gerais e os chefes de repartição. A um primeiro-ministro que se apresenta a eleições, exige-se que explique porque razão fez as escolhas que fez em sede de política externa, finanças, economia, fiscalidade, segurança social, trabalho, saúde pública, educação, investigação científica, defesa, etc. A um líder da Oposição que se apresenta a eleições, exige-se que explique o que tenciona fazer para garantir um Governo melhor. O resto é paleio.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

POLÍTICA, SIM

Não ouvi o debate radiofónico entre Costa e Passos. Como as televisões transmitem em diferido, talvez veja mais logo. Mas acabo de ler no Expresso a opinião de Pedro Santos Guerreiro: «Passos fala a partir de uma visão económica da política. E Costa fala a partir de uma visão política da economia. Desta vez, Passos ganhou.» Quem sou eu, que não ouvi, para dizer quem ganhou a quem. Uma coisa sei: ter uma visão política da economia (como Costa tem) é o que se espera de um candidato a primeiro-ministro. A visão económica da política é para amanuenses.

ITALO CALVINO


Hoje na Sábado escrevo sobre Porquê Ler os Clássicos?, de Italo Calvino (1923-1985), o italiano que nasceu em Cuba. Com mais de duas dúzias de títulos publicados no nosso país, tornou-se um autor familiar. Porquê Ler os Clássicos?, obra póstuma, está de regresso às livrarias. Organizada por Esther Calvino, esta colectânea de ensaios literários vai de Homero a Queneau, sem esquecer Ariosto, Balzac, Conrad, Diderot, Flaubert, James, Ovídio, Plínio, Stendhal, Tolstói e outros. A premissa é de meridiana clareza: «Um clássico é um livro que nunca acabou de dizer o que tem a dizer.» O estafado clichê do «Estou a reler…» por oposição a «Estou a ler…», leva o autor a discretear com ironia no texto de abertura. Dos ensaios pode dizer-se que são notáveis. Destaco dois: Pasternak e a revolução, texto de 1958 que não perdeu actualidade nem heterodoxia (suponho que o PCI terá franzido o sobrolho à natureza das conclusões de Calvino); e A cidade-romance em Balzac, de 1973, com enfoque no Ferragus do mestre da comédia humana. Acompanhar o raciocínio crítico de um grande criador é sempre um desafio. Cinco estrelas.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

CONVINHA REEDITAR, 7


Entre outras obras relacionadas com a literatura portuguesa contemporânea, João Pedro George (1972) publicou O Meio Literário Português (2002) no seguimento de uma tese de mestrado em sociologia. O livro estabelece nexos entre o Meio literário e a vida política. Com base na prosopografia, o autor procura definir «o perfil sociológico dos escritores como grupo e reconstituir algumas trajectórias sociais que possam ter estado na base da formação, do prestígio ou da consagração no interior do meio literário.» Fixando essa «biografia de grupo» num conjunto de 41 escritores que «receberam quatro ou mais prémios», o autor ilustra as respectivas «filiações sociais, políticas e económicas». O mesmo se aplica aos membros dos júris. Mas não só. João Pedro George disseca a lógica das instituições, dos intervenientes e dos acontecimentos; recupera polémicas célebres; explica a hegemonia cultural do PCP nos anos 1940-60; expõe «a construção social de um escritor» (Saramago); etc. Além de índice remissivo, o volume inclui cerca de oitenta páginas de anexos com o inventário exaustivo dos mais importantes prémios literários atribuídos em Portugal — quem outorgou, quem recebeu, quem integrou os júris — entre 1960 e 1998. Muito útil para perceber certas consagrações.

DISCURSO DIRECTO, 15

D. Januário Torgal Ferreira, bispo emérito das Forças Armadas e Segurança, no jornal i. Excerto:

«Quem trate de ouvir o discurso de Passos e Portas acha que entrou no eldorado. O que me escandaliza é que toda esta governação viva à nossa custa. Estaríamos perdidos se a coligação continuasse à frente do país. Claro que vou votar em António Costa.»

REGRESSO A 1984


Há quem julgue, por ignorância, patetite ou xenofobia subliminar, que o controlo de fronteiras é para os refugiados. Não é. Somos todos estrangeiros. Voltou tudo ao que era em 1984 — interrogatório, documentação esmiuçada, bagagem revistada, arbítrio do polícia de turno. Esta imagem do Guardian (edição online) foi obtida hoje de manhã na fonteira da Áustria com a Hungria. Clique na imagem.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

BRINCAR COM O FOGO

Horroriza-me que tanta gente, e não estou a falar de guardadores de rebanhos, olhe para as eleições do próximo 4 de Outubro como quem discute as razões de preferir Cacela à Quinta do Lago. No momento em que um vórtice de akrasia engole a Europa (meio milhão de desempregados, a deriva dos refugiados, as fronteiras blindadas, a provável vitória da Direita na Grécia, o imbróglio da Catalunha, o envolvimento do Reino Unido e da França na Síria, para só citar os casos mais gritantes), um terço dos portugueses prepara-se para não ir votar e outro terço acredita no milagre de Fátima. Porém, nunca tanto esteve em jogo como nas eleições de 4 de Outubro. Depois não se queixem.

COMEÇOU


Às zero horas de hoje começou uma nova era. Ao deslocar forças do exército para a fronteira, a Hungria é o espelho mais visível (o Estado de Crise pode, no limite, equiparar refugiados a terroristas), mas a reunião de ontem com os 28 ministros do Interior da UE não chegou a lado nenhum. Por enquanto, são seis os países que suspenderam as regras de livre circulação em vigor no espaço Schengen: Alemanha, Áustria, Eslováquia, Holanda, Hungria e República Checa. A imagem é do Guardian. Clique.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

PEDRO & MARIANA


Logo ao fim da tarde, no piso 7 do Corte Inglês, é lançado o livro da imagem. A obra será apresentada (18:30) por Manuela Ferreira Leite e Mário Centeno. Vai ser interessante ouvir o que a antiga ministra das Finanças e presidente do PSD tem a dizer de uma obra escrita por dois socialistas. Clique na imagem.

PRIMEIRO DISPARA-SE


Forças de segurança egípcias abateram doze turistas mexicanos e respectivos guias. Motivo: pensaram que eram membros do  Daesh. A imagem é do Guardian. Clique.

domingo, 13 de setembro de 2015

DISCURSO DIRECTO, 14

Nuno Saraiva, editorial do Diário de Notícias. Excertos, sublinhados meus:

«Pedro Passos Coelho não pára de surpreender. [...] “Organizarei uma subscrição pública para os ajudar a ir a tribunal.” [aos lesados do BES]

A demagogia, de facto, não tem limites. Um primeiro-ministro não é provedor da Santa Casa nem presidente da Cáritas ou do Banco Alimentar. Não lhe compete ser promotor da caridadezinha ou de exercícios de crowdfunding que têm por único objetivo servir-se do desespero alheio à procura de votos. Não se tivesse Passos Coelho demitido das suas funções, isto é, de resolver os problemas que afligem a comunidade, e, provavelmente, o Novo Banco já estaria vendido. Na verdade isso não acontecerá porque os efeitos que a operação vier a ter na derrapagem do défice público não deixarão de lhe ser assacados. [...] Passos promete pois, a título pessoal, contribuir com dinheiro seu para financiar as custas judiciais de eventuais processos que venham a existir. Ficamos à espera de outras subscrições, ainda faltam três semanas para as eleições, promovidas pelo primeiro-ministro para trazer de volta aqueles que emigraram, ajudar os que não têm emprego ou comprar os remédios aos reformados a quem cortou nas pensões ou no complemento solidário. De facto, a demagogia não tem limites. [...]»