sábado, 28 de novembro de 2015

O SILÊNCIO DOS INTELECTUAIS


Esta foto do Monde, publicada hoje a abrir o suplemento Culture & Idées, prova que a França, mesmo decadente, não abdica de pensar. O silêncio dos intelectuais portugueses face ao que se passou a partir de 4 de Outubro diz tudo do país que somos. Não me refiro a colunistas com tribuna fixa na imprensa ou lugar cativo nos canais bem-pensantes, nem, por maioria de razão, a comentadores avençados. Falo de intelectuais tout court, gente com obra feita na literatura, nas artes plásticas, na filosofia, no teatro, no cinema, na música, etc. Silêncio total. Nenhuma televisão se lembrou de juntar num debate um punhado de nomes “fortes” (exemplos avulsos: Eduardo Lourenço, Maria Velho da Costa, Helena Almeida, Pedro Cabrita Reis, António Braz Teixeira, José Gil, Jorge Silva Melo, São José Lapa, Pedro Costa, Teresa Villaverde, Mário Vieira de Carvalho, Olga Roriz) para lhes perguntar o que pensam do evoluir da situação, que não é uma situação qualquer, ao arrepio de “convenções” que Costa rasurou sem pedir licença a ninguém. Os jornais podiam e deviam ter feito o mesmo. Tentaram e toda a gente recusou? Era interessante saber o que pensa a nossa intelligentsia sobre uma série de questões com as quais os portugueses se viram confrontados pela primeira vez. Ninguém lhes pede que estejam de acordo. Até podem dizer, e alguns dizem em privado, que o que faz falta é um Maurras da pós-modernidade. O silêncio é deveras ensurdecedor.