Jornalista, escritora, mulher ecuménica entre as mulheres ecuménicas e nossa grande amiga, a Leonor foi admirável a vários títulos. Culta, dotada de um senso de humor imbatível, grande hostess, progressista no melhor sentido da palavra, pouca gente na vida cultural portuguesa tinha uma cabeça tão arejada como a sua.
Oriunda dos círculos mais exclusivos do Estado Novo, licenciada em filologia românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, casou com o fiscalista Alberto Xavier, professor da Faculdade de Direito de Lisboa e secretário de Estado do Planeamento no último Governo de Marcelo Caetano. Depois do 25 de Abril, o casal partiu com os filhos para o Brasil onde, depois de uma passagem por São Paulo, se mudaram para o Rio de Janeiro: Alberto Xavier foi dar aulas na Pontífica Universidade Católica e Leonor tornou-se correspondente do Diário de Notícias e colaboradora da revista Manchete.
A convite de Soares, Leonor regressou a Portugal em 1987, ano em que conheceu Raul Solnado, com quem manteve durante quinze anos uma união de facto. Em Lisboa, continuando a colaborar no DN, foi redactora da revista Máxima e ocasional colaboradora de muitas outras publicações. Em 1996 foi uma das fundadoras do núcleo português do movimento cristão Nós Somos Igreja, tendo, ainda há dois meses, assinalado os 25 anos da sua actividade no nosso país.
Da obra de Leonor Xavier constam as biografias de Maria Barroso (1995) e Solnado (2003), seis colectâneas de ensaios, crónicas e entrevistas, três romances, dois diários informais — um deles, Passageiro Clandestino, de 2014, sobre o cancro — e o excepcional Casas Contadas (2009), autobiografia dos anos brasileiros. Em data, Há Laranjeiras em Atenas (2019) é o livro mais recente.
O velório decorrerá a partir das cinco da tarde de hoje na Capela do Rato, sendo a missa de amanhã (10:00) celebrada pelo cardeal José Tolentino Mendonça, vindo do Vaticano para o efeito.
Até sempre, Leonor.
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