domingo, 25 de abril de 2021

REINALDO


UM POEMA POR SEMANA — Para hoje escolhi Eu, Rosie, eu se falasse, eu dir-te-ia de Reinaldo Ferreira (1922-1959), nome destacado da poesia portuguesa escrita em Moçambique.

Começar por esclarecer: em Portugal, quase toda a gente confunde o poeta com seu pai, o mais famoso jornalista português dos anos 1920 e 30, que assinava com o pseudónimo de Repórter X. Além de jornalista, o Repórter X era também novelista, dramaturgo, realizador e produtor de cinema. [Em 1986, José Nascimento fez Repórter X, o filme.] Tendo ambos o mesmo nome civil, a confusão é de regra, até porque Reinaldo filho, o poeta, viveu em Lourenço Marques a partir dos 17 anos.

Estando seus pais radicados em Barcelona, foi ali que Reinaldo nasceu. Com a chegada ao poder de Primo de Rivera, a família regressou a Portugal. Mais tarde, por razões nunca devidamente esclarecidas, o futuro poeta foi terminar o liceu a Lourenço Marques, cidade onde viveu até morrer.

Funcionário da Administração Civil, Reinaldo foi publicando poemas nos suplementos literários da imprensa local, sem nunca ter organizado um livro em vida. Escrito no início dos anos 1950, Receita Para Fazer um Herói passou a integrar o cânone da Guerra Colonial.

Homossexual assumido, figura mítica da gay scene laurentina, tornou-se responsável, a partir de 1952, pela secção de teatro do Rádio Clube de Moçambique, para onde traduziu peças de vários autores.

Escreveu as letras de canções interpretadas por, entre outros, Amália [Uma Casa Portuguesa] e Zeca Afonso [Menina dos Olhos Tristes], bem como, sob o pseudónimo de Reinaldo Porto, o guião e as canções de musicais exibidos em Lourenço Marques.

Vítima de cancro no pulmão, morreu antes de completar 37 anos.

O poema desta semana pertence a Um Voo Cego a Nada, primeira sequência da obra poética completa, coligida no volume Poemas, publicado pela Imprensa Nacional de Moçambique no primeiro aniversário (1960) da sua morte. A imagem foi obtida a partir desse livro. Em Portugal estão publicadas outras duas edições (1962 e 1998), prevendo-se para breve uma terceira.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão e Fiama Hasse Pais Brandão.]

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