segunda-feira, 2 de novembro de 2020

RATCHED


Quase toda a gente se lembra de Voando Sobre um Ninho de Cucos, o filme que Miloš Forman fez em 1975 com Jack Nicholson no protagonista. Da enfermeira Mildred Ratched é que nem todos se recordarão, embora Louise Fletcher tenha ganho o Óscar de melhor actriz.

A personagem de Mildred Ratched é tão absorvente que Evan Romansky e Ryan Murphy criaram uma prequela do romance de Ken Kesey que está na origem do filme de Forman.

Assim nasceu Ratched, a série da Netflix que abre com Danse Macabre de Saint-Saëns e nos agarra logo pelo deslumbramento da fotografia.

Na série, Sarah Paulson faz de Mildred Ratched, uma mulher fria e calculista, abusada em criança, sociopata, assassina e lésbica. A seu lado encontramos a sempre notável Judy Davis, Finn Wittrock (o serial killer em torno do qual gira a trama), Cynthia Nixon, Sharon Stone, Amanda Plummer, Vincent D’Onofrio, Jon Jon Briones (o homem das lobotomias que cita Egas Moniz), Charlie Carver, Alice Englert e, por último mas não em último, a extraordinária Sophie Okonedo, numa performance de cortar a respiração.

Tudo se passa entre 1947 e 1950, quase sempre no Lucia State Hospital, uma instituição alegadamente psiquiátrica da Califórnia, localizada em Monterey. Violência e sexo em doses não recomendáveis a almas sensíveis.

O plot ressente-se da agenda política: Vincent D’Onofrio, no papel de Governador da Califórnia, é uma caricatura de Trump. Mas também de proselitismo: não é crível que em 1947 a secretária de um Governador estadual seja casada com um negro. Mesmo tratando-se de um casamento de fachada — ela lésbica, ele homossexual —, tal não era exequível nos círculos políticos norte-americanos dos anos 1940. Para já não falar do espírito MeToo que perpassa ao longo dos oito episódios da série. De qualquer modo, um excelente entretenimento.

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