Metade do país execra Sócrates por, no auge da crise das dívidas soberanas, ter alegadamente conduzido o país à beira do incumprimento.
Agora que temos as contas certas, e um ministro das Finanças respeitado dentro e fora do país, são praticamente os mesmos que pedem a cabeça de Centeno.
Nada disto surpreende. Quatro quintos dos votantes portugueses regem-se pela velha dicotomia Benfica / Sporting. A maioria vota para contrariar, muito poucos por convicções ideológicas.
Repito o já dito: os mais reaccionários dos meus amigos votam todos no BE porque, dizem eles, é a única forma de impedir uma maioria absoluta do PS. Podiam votar no PCP, ou no PSD, partidos transversais à sociedade portuguesa, com base social de apoio bem definida num caso como noutro, mas não o fazem. (Claro que tenho amigos progressistas que votam no BE, mas são uma minoria.) Isto para não falar das contradições entre mais Estado e menos Estado, querela resolvida com a eleição de um deputado liberal.
E assim sucessivamente. De repente, toda a gente exige layoff porque sim, à revelia de procedimentos mínimos. Sabendo nós como se processa o modus operandi da economia portuguesa, todo o relaxe deve ser evitado.
O melodrama à volta do “destino” de Centeno radica nesta bipolaridade.