Caroline Tyssen não desiste. Faz ela muito bem. A Galileu merece todo o nosso apoio. Em Novembro de 1975, quando viemos de Lourenço Marques (o Jorge e eu), fomos viver para Cascais. Vinte e dois anos marcantes. A Galileu tornou-se a nossa livraria. Não andarei longe da verdade se disser que por ali passava três em cada sete dias da semana, guiado pela Caroline ou por uma das suas filhas, senão mesmo pelo saudoso Duarte Nuno Oliveira, cavalheiro entre cavalheiros.
Ali me cruzei com Fernando Assis Pacheco, Eugénio Lisboa, Herberto Helder, a Ló e o Garizo do Carmo, David Mourão-Ferreira e tantos outros. Ali levei Rui Knopfli uma vez, para lhe provar que o mundo não acabava na Waterstones. Ainda hoje, sempre que passamos por Cascais, damos um salto ao n.º 24 da Avenida Valbom. Quem tiver tempo, faça o mesmo: encontra preciosidades e conselhos sábios. Também calha encontrar Marcelo, o Presidente da República. Em 2014, a festa do 42.º aniversário foi bonita e juntou amigos queridos.
Sobre a descoberta da Galileu, transcrevo do meu livro de memórias:
«Uma tarde em que fui com o Jorge comer gelados ao Santini [...] descobrimos a Livraria Galileu, fundada por Caroline Tyssen. O que nos chamou a atenção foram as mesas de livros usados colocadas no passeio, cheias de paperbacks ingleses. Os fundos de literatura portuguesa estavam na cave, sobretudo raridades em segunda mão. Rotatividade era um conceito ignorado. Livro que ficasse no andar de cima sem vender, descia, ao fim de meses, para a cave. Nunca era devolvido. Encontrei preciosidades a preços irrisórios. Nessa primeira visita chamou-me a atenção uma prateleira com autores de direita: Agustina Bessa-Luís, António Quadros, Joaquim Paço d’Arcos, Rodrigo Emílio, Pinharanda Gomes e outros. Uma temeridade no Outono de 1975. Facto é que mais depressa se vendiam os poemas de Agostinho Neto que os de Sophia. Dessa visita inaugural trouxe livros de Agustina, largamente ignorada em Moçambique. Ignorada no sentido de pouco lida. As Pessoas Felizes (1975) foi um deles. Romance fulgurante como muito poucos. [...]» — Um Rapaz a Arder, Quetzal, 2013.
A foto foi roubada à Caroline. Clique