segunda-feira, 21 de maio de 2018

PÓS-POP AGAIN


Já percebi que muita gente não percebeu. Então vamos lá. A exposição Pós-Pop. Fora do Lugar-Comum, comissariada por Ana Vasconcelos e Patrícia Rosas, junta um excepcional conjunto de artistas portugueses que vale a pena ir ver. É uma exposição importante em qualquer parte. Assim de cor (não comprei o catálogo, caro e de fraca qualidade), lembro-me de Menez, Ruy Leitão — o filho mais velho de Menez, suicidado aos 26 anos, porventura o artista mais representado desta exposição —, Teresa Magalhães, Batarda, Ana Hatherly, Palolo, Clara Menéres, Fernando Calhau, Skapinakis, Paula Rego, Joaquim Bravo, Lourdes Castro, Jorge Martins, Maria José Aguiar, Manuel Baptista, René Bértholo, Fátima Vaz, José de Guimarães, Ana Vieira, Cutileiro, Luisa Correia Pereira e Noronha da Costa. Mas há mais. A quota inglesa inclui, entre outros, Allen Jones, Bernard Cohen, Tom Phillips e Jeremy Moon. Os quadros e esculturas estão na vasta galeria da Gulbenkian. Mas há três cubículos negros, não identificados de modo a perceber-se que são micro-galerias, onde as curadoras juntaram obras relacionadas com o 25 de Abril e a liberdade em geral, a evolução dos costumes (moda) e o sexo. Conheço gente que foi ver a exposição, esteve lá hora e meia, e não deu por esses cubículos. Num deles meteram o Relicário (1969) de Clara Menéres, e também pequenas esculturas de Cutileiro. Essas obras foram colocadas dentro de caixas-armários. E a maior parte das pessoas pensa que elas, as caixas-armários, são obras de arte em si mesmas. São muitos os que, quando abrimos a porta da caixa-armário, ficam espantados. O aviso ABRIR/OPEN é bem visível, mas as pessoas, como são muito inteligentes, pensam que é uma instalação, suspiram, citam Lacan, e preparam-se para aprofundar o tema no próximo jantar de amigos: «Tás a ver, o sintagma preposicional...» / «Diria antes epítome da dimensão material do nó barromeano...» Vi muito disto, sei como é.

Como a fotografia que publiquei ontem não deixa ver com clareza a porta da caixa-armário, publico hoje outra, mais explícita. Clique.