Hoje na Sábado escrevo sobre O Vermelho e o Negro, a obra-prima de Stendhal (1783-1842). Se as minhas contas estão certas, a presente edição corresponde à sexta tradução feita no nosso país. Iniciada por Rui Santana Brito, entretanto falecido, foi concluída por Helder Guégués. Um trabalho que honra a edição portuguesa. Nascido Henri Beyle numa família burguesa com pretensões aristocráticas, o futuro escritor adoptaria o pseudónimo de Stendhal. Antes disso fez parte dos exércitos de Napoleão (assistiu ao incêndio de Moscovo), foi plenipotenciário do ministério da Guerra e agente duplo. Negado o credenciamento como cônsul em Trieste, o Papa não se opôs que fosse para Civitavecchia. Publicado em Novembro de 1830, O Vermelho e o Negro foi o primeiro dos três romances que fariam dele um nome maior da literatura universal, sendo os outros A Cartuxa de Parma (1839) e Lucien Leuwen, escrito a par dos anteriores, mas só publicado postumamente em 1894. Dividido em duas partes, O Vermelho e o Negro é a história da ascensão e queda de Julien Sorel, um deserdado da sociedade que tentará, por todos os meios, aproveitar-se da Restauração para triunfar. O título é inspirado nas cores da carreira militar (vermelho) e eclesiástica (negro), os dois pólos da intriga. Tudo começa quando Julien, então com 19 anos, é admitido como preceptor dos filhos da família Rênal, notáveis de Verrières. Julien torna-se amante da ‘patroa’, mas o affaire acaba mal. Mais tarde, após uma passagem pelo seminário de Besançon, Julien vai para Paris e seduz a filha do marquês de La Mole, membro da mais alta aristocracia, que o contratara como secretário. A subida na hierarquia social não abafa o profundo rancor de Julien, dando azo ao trágico desfecho. A trama é praticamente decalcada do caso Antoine Berthet, uma cause célèbre de 1828. Nesta edição, o subtítulo original, ‘Crónica do século XIX’, passou para Crónica de 1830. Quando O Vermelho e o Negro saiu, já Stendhal publicara várias obras, tais como estudos sobre Racine e Shakespeare, além do romance de estreia, Armance, (1827), relato da vida nos salões parisienses. Cinco estrelas. Publicou a Guerra & Paz.