quinta-feira, 23 de agosto de 2018

PRECONCEITO


A transferência, para a SIC, de Cristina Ferreira, apresentadora e directora de conteúdos não informativos da TVI, tem provocado toda a sorte de comentários. No meu mural de Facebook apaguei os de teor xenófobo.

A ver se a gente se entende: eu não vejo os programas de Cristina Ferreira do mesmo modo que não vejo os de Catarina Furtado ou Manuel Luís Goucha. É o tipo de programas que não me interessa. Faz-me confusão o montante envolvido na transferência (um milhão de euros por ano), mas essa confusão decorre de ouvir dizer, em círculos bem informados, que a SIC se debate com graves problemas de tesouraria. Portugal é um mistério insondável.

Agora o que importa. Cristina Ferreira tem 40 anos e origens humildes. Nunca escondeu essas origens, ou seja, nunca escondeu que ajudava os pais, que eram feirantes na Malveira. Portanto, não está na televisão por ter um papá muito cá dos nossos. Licenciada em História e, mais tarde, em Ciências da Comunicação, foi professora do ensino secundário durante dois anos, em Colares e Casal de Cambra. Trabalha em televisão desde 2002. Desde 2013 é directora de conteúdos não informativos da TVI. Lançada em Março de 2015, a revista Cristina é a única revista portuguesa do género que pode medir-se com equivalentes estrangeiros.

Agora vai para a SIC como apresentadora e consultora executiva da direcção-geral de entretenimento (a primeira grande contratação de Daniel Oliveira). Dito de outro modo: sai de um lugar de direcção na TVI para um lugar de direcção na SIC. Vai ganhar mais do que qualquer homem, detalhe que irrita o mulherio.

Fora dos programas que a televisão produz para o povão, Cristina Ferreira é outra pessoa. Eu arriscaria dizer que é mais culta que muitos sabichões de rede social. As pessoas ficaram agarradas à persona que ela criou. Vê-se que não percebem nada de branding.