Passou ontem na RTP-2 um documentário sobre Ruy Athouguia (1917-2006), um arquitecto que marcou Lisboa e Cascais, um dos maiores da arquitectura portuguesa, infelizmente pouco citado. Formado pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto, Ruy de Sequeira Manso Gomes Palma Jervis d’Athouguia Ferreira Pinto Basto sofreu o ónus dos homens e mulheres da sua geração que não pertenceram ao Partido Comunista. As origens aristocráticas, a fortuna da família, o facto de ter pertencido à alta sociedade e o total alheamento da vida política e dos lobbies corporativos, contribuíram para a omissão. A obra não pode ser rasurada, mas, à sua volta, o silêncio é ensurdecedor. Lá fora, Corbusier e Alvar Aalto, entre outros, não pouparam elogios. Para quem não sabe, Athouguia foi o arquitecto do Bairro das Estacas, da Escola do Bairro de São Miguel, da Escola Teixeira de Pascoaes, do Liceu Padre António Vieira, do Edifício Roma, do conjunto de seis edifícios da Praça de Santo António, do edifício-sede e do museu da Fundação Calouste Gulbenkian, etc., tudo isto em Lisboa, bem como de várias obras em Cascais, das quais se destacam a sua própria casa (amplamente citada, fotografada e estudada em revistas estrangeiras da especialidade), bem como as icónicas Casa Sande e Castro e a Torre do Infante. Em Abrantes, o Cineteatro São Pedro também é de sua autoria. O documentário de Nuno Costa Santos e Ricardo Clara Couto contou com depoimentos de Eduardo Souto Moura, muito enfático sobre a importância da obra de Athouguia, Graça Correia, Ana Tostões, Vasco Avillez e outros. O serviço público é isto.