Nas democracias, os políticos, eleitos ou nomeados, não gozam do privilégio da privacidade. Isso acabou há cem anos. Tudo é escrutinado, das escolas dos filhos à situação laboral dos empregados domésticos. E, por maioria de razão, a vida conjugal ou para-conjugal. Quem alguma vez viu o programa 60 Minutos conhece as regras. (A compostura dos entrevistadores é outro campeonato.) Podemos achar que beltrana ou fulano são profissionais inquinados, mas para isso há remédio: ficam na rua.
Em 2001, quando Hillary Clinton, finda a presidência do marido, concorreu ao lugar de senadora pelo Estado de Nova Iorque, o casal arranjou casa num subúrbio elegante da cidade. Pois bem, a imprensa de referência (não foram os tablóides) andou semanas a ver à lupa os rendimentos dos Clinton, porque, argumentava o NYT, aquela casa era excessivamente cara para as posses do ex-Presidente e mulher. Teriam tido acesso a crédito por serem quem eram? Como iam pagar? Etc. É aborrecido, eu sei, mas quem corre por gosto não cansa.