quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

ALBERTO BARRERA TYSZKA


Hoje na Sábado escrevo sobre Pátria ou Morte, romance de Alberto Barrera Tyszka (n. 1960), escritor venezuelano até agora inédito em Portugal. O fenómeno da ascensão e morte de Hugo Chávez é o tema central do livro. Romancista, guionista de televisão, cronista e poeta, Tyszka vive no México desde 2014, facto que não o impede de estar bem informado sobre o regime bolivariano. Foco central da intriga: dúvidas relacionadas com as circunstâncias da morte de Chávez, cada episódio clínico datado com precisão. O romance é um pretexto para falar da Venezuela actual. Citando fontes de uma organização independente, Fredy, um dos personagens do livro, repórter de profissão, reflecte sobre o quotidiano de violência num país onde, «durante o ano de 2011, tinham ocorrido diariamente 52 assassinatos» e, nessa medida, «não há jornalistas suficientes para cobrir tanto sangue.» Mas o plot centra-se na figura de Chávez, o homem que a partir de 1999 fez da Venezuela um «parque temático dos anos setenta […] um espaço onde levar a passear as nostalgias» dos intelectuais orgânicos. Estribado num «modelo autoritário baseado no culto da personalidade», Chávez atirava Gramsci a populações esfomeadas. O livro está construído como um guião de novela. Uma miríade de personagens, cada uma com a sua história pessoal, compõe o pano de fundo. O oncologista Sanabria, de formação humanista; Vladimir, o apparatchik que acompanhou Chávez a Cuba; Madeleine Butler, a jornalista americana à procura do “furo” da sua carreira; Maria, a rapariguinha proibida de ir à escola para não ser vítima de uma bala perdida, mas viu a mãe ser morta à queima-roupa; e vários outros, entre eles um português. O puzzle nem sempre resulta. O mais interessante é a informação lateral. Por exemplo, a extensão da presença cubana na Venezuela, em sectores tão diferentes como a «cooperação médica, desportiva e cultural», mas também na melindrosa «gestão do sistema nacional de identificação», registos mercantis e cartórios públicos incluídos, sem esquecer o braço longo da polícia política de Fidel. O excludente silêncio em torno da doença de Chávez é explorado em todos os matizes: «E o país, fundado em volta da sua voz, estava desconcertado…» A tentação do thriller é grande mas não tem eficácia. Três estrelas. Publicou a Porto Editora.