Hoje na Sábado escrevo A Poeira Que Cai Sobre a Terra, de Francisco José Viegas (n. 1962). O livro marca o regresso do inspector Jaime Ramos, seguramente o mais conhecido personagem de ficção da nossa literatura policial, protagonista de romances como Morte no Estádio (1991), Um Céu Demasiado Azul (1995), Longe de Manaus (2005), vencedor do Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, O Mar em Casablanca (2009) e outros. Jaime Ramos é um homem do Porto que gosta de mulheres e de comer bem. Com exclusão do métier, podemos vê-lo como alter-ego do autor. Os leitores habituaram-se às suas idiossincrasias e bonomia lúdica. Entretanto, Ramos envelheceu e sofreu um AVC, episódio que não lhe tolda a memória: o eco dos sinos de Provesende, as figueiras da casa do Pinhão, as amenidades do Hotel d’Inghilterra, escape romano. Com envios (cultura, actualidade, background histórico) inseridos de forma hábil, a prosa escarolada de Viegas é o exacto oposto das “narrativas” que dominam o mercado. Dito de outro modo, estamos mesmo a falar de literatura. Quatro estrelas.