Fui ouvir a entrevista que Henrique Raposo deu à SIC Radical no passado 19 de Fevereiro. Tinha lido Alentejo prometido, uma memorabilia das origens do autor. E não ouvi nada, repito, nada, que mereça controvérsia. Discurso directo: «Quando pensei escrever o livro tinha a esperança de que iria encontrar as minhas raízes alentejanas, que iria ver uma luz debaixo do chaparro… Mas nunca encontrei e é um livro duro por causa disso, porque é a minha separação com o Alentejo.» Sei por experiência própria que o crime de lesa-identidade não tem perdão.
Em 1999, entrevistado pela RTP, à pergunta sobre se me considerava moçambicano, respondi: «Sou português, nasci em Moçambique como podia ter nascido na China.» Fui para Nova Iorque no dia seguinte e, no regresso, tinha o correio inundado de “indignações”. Assim entrei no limbo. É o lado para que durmo melhor, mas dá a medida do nonsense. (Um dia, no Palácio Conde de Penafiel, um embaixador quis saber se eu pensava mesmo isso.) Voltando ao livro e à entrevista de Raposo: é nauseante assistir ao destrambelho geral. Portanto, resta-me tirar o chapéu a Rentes de Carvalho, que vem de Amesterdão a Lisboa apresentar Alentejo prometido. A fatwa não nos pode inibir.