A Galileu faz hoje 43 anos. Desde 1972, a Galileu é “a” livraria de Cascais. Durante os 22 anos em que lá vivemos, foi ponto de passagem, não direi diário, mas quase. A Caroline e o Nuno forem sempre anfitriões excelentíssimos.
Deixo aqui um excerto do meu livro de memórias:
Uma tarde em que fui com o Jorge comer gelados ao Santini (a gelataria por onde passaram várias gerações da família real espanhola), descobrimos a Livraria Galileu [...] O que nos chamou a atenção foram as mesas de livros usados colocadas no passeio, cheias de paperbacks ingleses. Os fundos de literatura portuguesa estavam na cave, sobretudo raridades em segunda mão. Rotatividade era um conceito ignorado. Livro que ficasse no andar de cima sem vender, descia, ao fim de meses, para a cave. Nunca era devolvido. Encontrei preciosidades a preços irrisórios. Nessa primeira visita chamou-me a atenção uma prateleira com autores de direita: Agustina Bessa-Luís, António Quadros, Joaquim Paço d’Arcos, Rodrigo Emílio, Pinharanda Gomes e outros. Uma temeridade no Outono de 1975. Facto é que mais depressa se vendiam os poemas de Agostinho Neto que os de Sophia. Dessa visita inaugural trouxe livros de Agustina, largamente ignorada em Moçambique. Ignorada no sentido de pouco lida. As Pessoas Felizes (1975) foi um deles. Romance fulgurante como muito poucos. Trouxe também Ana Paula (1938), de Joaquim Paço d’Arcos, não podendo deixar de recordar um episódio de 1971. [...] A Galileu era ponto de passagem de escritores e poetas que viviam ou veraneavam em Cascais, como era o caso de António Quadros, David, Assis Pacheco, Herberto e Gaspar Simões. — Um Rapaz a Arder, Quetzal, 2013...
Portanto, hoje é dia de festa. A fotografia de Maximilien Coppens foi roubada a Caroline Tyssen. Clique nela.