quinta-feira, 15 de outubro de 2015

FERNANDO VENÂNCIO


Hoje na Sábado escrevo sobre Beijo Técnico e Outras Histórias, de Fernando Venâncio (n. 1944), mais conhecido como linguista e crítico literário, mas também tradutor de Gerrit Komrij e autor de crónicas, ensaios, contos e romances. Radicado na Holanda desde 1970, a docência universitária no estrangeiro afastou-o de Portugal, fazendo dele um outsider do Meio. Não é caso único. Aconteceu o mesmo com José Rodrigues Miguéis, Jorge de Sena, Alberto de Lacerda, Rentes de Carvalho e outros. Acabado de publicar, Beijo Técnico e Outras Histórias colige setenta e seis narrativas breves, ou contos curtos (se preferirem), um punhado de haikus aqui, outro ali: «Tragédia familiar: O genro ideal casou ontem com um colega.» Venâncio radiografa em tom menor o quotidiano das pessoas comuns: expectativas, surpresas, equívocos, ambição, humores, traições: «O miúdo nasceu assim prò claro. Muito clarinho mesmo […] que diria o esbelto negro quando, passado um mês, regressasse do mar?» Nenhuma ênfase, e uma discreta ironia nos interstícios da prosa, como no excelente Les Mecs, retrato subtil do mundo sem fronteiras. Um dos textos reproduz um e-mail escrito e enviado em 2012 a Pedro Chagas Freitas, que escreveu um livro «em directo, e com contributos de amigos». A nota de rodapé não esclarece se Fantasmas faz parte do referido livro. Três estrelas.