sexta-feira, 16 de outubro de 2015

ÁUGURES

Em Julho de 2004, Sampaio manteve o país em suspenso antes de decidir se aceitava a solução dinástica de substituir Barroso por Santana. Durante três semanas, não houve cão nem gato que não fosse a Belém. Alguns até foram duas vezes: primeiro sozinhos, depois para a reunião do Conselho de Estado. Agora são os jornais que todos os dias entrevistam constitucionalistas a propósito da legitimidade do PR indigitar (ou não) António Costa para chefiar um Governo do PS com apoio parlamentar do BE, do PCP, do PEV e do PAN — ou seja, por uma maioria de 123 deputados. 

Impedidos, face à letra da Constituição, de dizer que a indigitação de Costa seria ilegal, a maioria desses constitucionalistas faz o pino para ilustrar juízos de intenção: ‘os eleitores do PS isto... os eleitores do PS aquilo… etc.’ Estes cavalheiros falaram com todos e cada um dos 1,7 milhões de eleitores do PS para saberem o que eles pensavam no acto de votar? Não ocorreu a estes cavalheiros que foi a natureza  “conciliadora” do programa do PS que levou votantes tradicionais do partido a votarem no BE (o que explica o salto de 8 para 19 deputados), de modo a forçar, presumo, e talvez presumissem eles, a criar as condições para um Governo apoiado numa maioria de esquerda?