Hoje na Sábado escrevo sobre Aquele Verão, de Bill Bryson (n. 1951), um americano que trocou de país. Nascido no Iowa, atravessou o Atlântico em 1973, empregou-se num hospital psiquiátrico do Surrey, casou com uma colega e os filhos nasceram na Inglaterra, onde o autor continua a viver. Em 1995 houve um intervalo americano, durante o qual escreveu para uma revista inglesa os artigos que em 1999 foram coligidos em Notas sobre um País Grande, exemplo do desdém que nutre pelo modo de vida americano.
O livro agora traduzido reporta ao ano de 1927. Com a truculência habitual, Bryson explora o frenesi dos anos 1920 a partir de acontecimentos concretos, como, por exemplo, o aparecimento de três revistas míticas: a Reader’s Digest em 1922, a Time no ano seguinte, e a New Yorker em 1925. Foi, diz o autor, «a época em que se registaram os mais elevados índices de leitura na vida americana.» Como de regra, os seus livros oscilam entre a crónica historicista e o ensaio de índole sociológica: muita informação (uma vertigem enciclopédica), notas de humor nem sempre óbvias, conclusões heterodoxas pontuadas pela sobranceria que alguma intelligentsia europeia reserva para “a América”. O excesso de informação cruzada desvia a narrativa para temas laterais, por vezes sem grande interesse.
A paciência do leitor é posta à prova no Prólogo, um longo texto que inventaria uma série de desaires que precederam a façanha de Charles Lindbergh, o homem que em Maio de 1927 terá feito o primeiro vôo solitário e sem escalas entre Nova Iorque e Paris. Com epicentro no glamoroso Lindbergh, Aquele Verão não ignora as idiossincrasias da era do jazz, o assassinato de Albert Snyder, o processo dos anarquistas Sacco & Vanzetti e, entre derivações mais prosaicas, as grandes cheias do Mississipi que deram origem a uma migração maciça da população negra do Sul para o Norte dos Estados Unidos. O capítulo 28 trata a Literatura de forma light. É bizarro ver Bryson comparar o sucesso comercial de Zane Grey, um dos «autores mais populares do planeta no século XX», com o de F. Scott Fitzgerald, um autor canónico. Seria o mesmo que comparar as vendas de José Rodrigues dos Santos com as de Maria Gabriela Llansol. Um exercício fútil.
O volume inclui catorze páginas de fontes bibliográficas, índice remissivo e, a partir da página 490, verbetes biográficos das principais personagens citadas. Três estrelas.