domingo, 19 de dezembro de 2021

ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA


UM POEMA POR SEMANA — Para este domingo escolhi Muito Urgente de António Manuel Couto Viana (1923-2010), o poeta que a democracia obliterou.

Nascido em Viana do Castelo, veio viver para Lisboa em 1946, tendo-se estreado em livro com O Avestruz Lírico (1948), primeiro de mais de cem títulos de uma vasta bibliografia. A sua proximidade com instituições do Estado Novo fez com que, após 1974, tivesse sido praticamente silenciado. Exceptuando Joaquim Manuel Magalhães, que sobre ele escreveu um denso ensaio incluído em Rima Pobre (1999), a recepção crítica dos livros que publicou em democracia foi residual. Sobretudo a partir de Café de Subúrbio (1991), assumiu sem reservas a identidade homossexual.

Por ter herdado da avó o Teatro Sá de Miranda, de Viana do Castelo, esteve desde sempre ligado ao teatro — mas também à ópera: Teatro Nacional de São Carlos, Círculo Portuense de Ópera, etc. —, como director, encenador, tradutor, actor e figurinista. Contudo, é como poeta que a posteridade o fixa.

Membro da Academia das Ciências de Lisboa, conselheiro de leitura da Fundação Calouste Gulbenkian, director de revistas literárias como Graal, Távola Redonda e outras, viveu dois anos (1986-88) em Macau. Várias vezes premiado e condecorado, foi feito Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique em 1995.

Além de poesia, escreveu teatro, contos, ensaios, memórias, literatura para a infância e gastronomia. Entre outros, traduziu Sófocles, Molière e Neruda. Por seu turno, livros seus estão traduzidos em Espanha, França, Alemanha, Rússia, Inglaterra e China.

Editada pela Imprensa Nacional, a poesia que publicou até 2001 encontra-se coligida nos dois volumes de 60 Anos de Poesia (2004). Deixou inédito um livro de memórias, provável continuação dos três que publicou em vida. Morreu na Casa do Artista, em Lisboa.

O poema desta semana pertence a Relatório Secreto (1963). A imagem foi obtida a partir do 2.º volume da Terceira Série de Líricas Portuguesas, a mítica antologia organizada por Jorge de Sena.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca, António Gedeão, Fiama Hasse Pais Brandão, Reinaldo Ferreira, Judith Teixeira, Armando Silva Carvalho, Irene Lisboa, António Botto, Ana Hatherly, Alberto de Lacerda, Merícia de Lemos, Vasco Graça Moura, Fernanda de Castro, José Gomes Ferreira, Natércia Freire, Gomes Leal, Salette Tavares, Camilo Pessanha, Edith Arvelos, Cesário Verde, António José Forte, Francisco Bugalho, Leonor de Almeida, Carlos de Oliveira, Fernando Assis Pacheco, José Blanc de Portugal, Luís Miguel Nava, António Maria Lisboa, Eugénio de Andrade e José Carlos Ary dos Santos.]

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