Ontem, no Expresso, Miguel Sousa Tavares glosa o tema em tom heróico. Chegou a hora, diz ele, do Presidente da República substituir o Governo de António Costa por um de iniciativa presidencial, «sem dissolver o Parlamento, sem necessariamente despedir todo o elenco do actual Governo...», apenas metade dos ministros, aqueles que «não fazem nada ou só atrapalham...» Um tal governo seria para governar «enquanto durar esta situação de catástrofe pública.»
Vindo da boca de quem quem — além de jornalista, MST é advogado —, o dislate tem de ser associado a liberdade poética.
Toda a gente sabe, ou devia saber, que a possibilidade de existirem governos de iniciativa presidencial acabou em 1982, com a primeira revisão constitucional.
Hoje é a vez de Santana Lopes, o primeiro-ministro que em 2004 caracterizou assim o seu Governo: «Este é um Governo a quem ninguém deu quase o direito de existir antes dele nascer, e que, depois de nascer através de um parto difícil teve que ir para uma incubadora e vinham alguns irmãos mais velhos e davam-lhe uns estalos e uns pontapés.»
Este cavalheiro, que também é advogado, e tem um currículo estonteante (membro de um governo de iniciativa presidencial, assessor jurídico de Francisco Sá Carneiro, deputado, professor de direito constitucional e ciência política, líder parlamentar do PSD, secretário de Estado da Cultura de Cavaco, presidente do Sporting, marido de Cinha Jardim, fundador do jornal O Liberal e accionista de vários media, presidente das Câmaras da Figueira da Foz e de Lisboa, líder do PSD, primeiro-ministro do XVI Governo Constitucional, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, comentador político, líder da Aliança, etc.) deu uma entrevista ao Diário de Notícias, publicada hoje, na qual glosa o tema do Governo de Emergência Nacional, sem exclusão do BE e do CHEGA.
Santana também quer as autárquicas adiadas seis meses.
Miguel Sousa Tavares e Santana Lopes não estão sozinhos. Há mais gente a bater na mesma tecla. É natural, porque o ridículo não tem limites.
Imagem: detalhe da capa do Diário de Notícias. Clique.