sábado, 22 de agosto de 2020

FOLHETIM


Como é que o primeiro-ministro, um político inteligente e um homem avisado, anuiu a dar uma entrevista em folhetim? Quem não sabe, fica a saber: a “entrevista” hoje publicada é o lead, em forma de teaser, de uma entrevista a publicar na íntegra no próximo dia 29.

Os inconvenientes são óbvios: durante uma semana, toda a especulação é possível.

Deplorável.

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sexta-feira, 21 de agosto de 2020

VACINAS

Serei só eu a considerar irrealista falar de encomendas — efectuadas por dezenas de países, entre eles o nosso — de «vacinas Covid-19» para o fim do ano? E logo 6,9 milhões de doses? Mas quais vacinas?

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

AGITPROP CORPORATIVO

O país está à mercê dos humores das Corporações profissionais. Só não vê quem não quer ou anda muito distraído.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

REGUENGOS

Uma das responsáveis pelo Lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, em Reguengos de Monsaraz, onde morreram 18 pessoas, fez ontem uma boa pergunta. Cito de cor: «Os médicos e enfermeiros que deram informações à Ordem dos Médicos não actuaram...? Viram o que dizem ter visto e nada fizeram...?» Na mesma peça, da TVI, um médico é confrontado com a saída do Lar no auge do surto.

Numa cronologia dos factos, o Expresso regista, com data de 3 de Julho, data em que as vítimas mortais eram oito: «Médicos hospitalares deixam de prestar apoio presencial.» Porquê? Por ordem de quem? Com que intuito?

Ainda a cronologia: a 10 de Julho, com dezasseis mortos, «Médicos verificam que em várias ocasiões houve medicação que não foi administrada a múltiplos doentes.» Verificaram. Mas fizeram o que deviam? Ou foram a correr escrever o paper da Ordem?

Disse ao Expresso o presidente da Administração Regional de Saúde do Alentejo que, alegando falta de condições para prestar cuidados aos 84 utentes, «os médicos recusaram-se a trabalhar

Por que razão a Ordem dos Médicos, tão pressurosa em Reguengos de Monsaraz, assobiou para o lado durante o gravíssimo surto do Lar do Comércio, em Matosinhos, onde morreram 24 pessoas?

Tudo isto levanta uma série de interrogações. Cabe ao DIAP de Évora esclarecer o imbróglio. Face à gravidade do ocorrido, o modus operandi do gabinete da ministra é um detalhe absolutamente irrelevante.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

MUDANÇA DE CICLO


Soube-se hoje: em Setembro, Manuel Alberto Valente abandona o cargo que ocupa há doze anos no Grupo Porto Editora (o de director da Divisão Editorial Literária de Lisboa). Palavras suas:

«A Porto Editora proporcionou-me 12 anos de trabalho editorial quando outros me consideravam já “velho” para me adaptar às novas realidades desse mundo. Só isso bastaria. Mas ajudar a salvar ou recuperar chancelas como a Sextante, a Assírio & Alvim e a Livros do Brasil — e fazê-lo sem constrangimentos de qualquer espécie e com o apoio e a cumplicidade de todos — foi realmente a cereja no topo do bolo

Manuel Alberto Valente, de quem sou amigo há quase trinta anos, marcou como poucos a edição portuguesa: primeiro na Editorial Inova (1969-1981), depois como director editorial da Dom Quixote (1981-1991), a seguir como director-geral da Asa (1991-2008), desde 2008 na Porto Editora. A partir de Setembro será consultor do Grupo.

Para o seu lugar entra Vasco David, o editor que garantiu o padrão de qualidade da Assírio & Alvim. Dispensa mais apresentações.

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CAÇA


Começou a caça à ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. O país beato e hipócrita não tolera que Ana Mendes Godinho tenha tido a franqueza de dizer o óbvio, ou seja, que não leu o relatório da auditoria feita pela Ordem dos Médicos no Lar de Reguengos de Monsaraz, um estabelecimento da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva.

Para ler relatórios existem os assessores. Sempre assim foi e será. Os assessores da ministra e os assessores dos secretários de Estado responsáveis pela área em pauta: Gabriel Bastos, da Segurança Social, Ana Sofia Antunes, da Inclusão das Pessoas com Deficiência, e Rita da Cunha Mendes, da Acção Social. E a seguir os directores-gerais. Chama-se hierarquia.

O que se terá passado no Lar de Reguengos de Monsaraz tem de ser investigado, claro que sim, e rapidamente, mas pelo Ministério Público. Ou será que a referida Fundação tem imunidade?

O que o Governo devia fazer era aproveitar o pretexto para inspeccionar todos os lares da terceira idade, chamem-se Casa de Repouso, Clube Sénior ou outra coisa qualquer, sejam propriedade de quem forem (Santa Casa, Igreja, Bancos, Empresas públicas e privadas, Associações, empresários em nome próprio, Estado, sindicatos, Fundações, etc.) e, em consequência, agir. O busílis, diz quem conhece bem o sector, é que uma inspecção a sério levaria ao encerramento imediato de 6 em cada 10 estabelecimentos existentes no país. E falo apenas dos legais.

O único erro de Ana Mendes Godinho foi ter dado a entrevista a quem deu. O resto é chicana política.

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domingo, 16 de agosto de 2020

RITZ & SILLY SEASON


A pandemia não acabou com a silly season. Este ano as televisões apostaram no ‘faça férias cá dentro’ em formato publicitário. Restaurantes do Portugal profundo, resorts exclusivos que há seis meses não queriam saber dos portugueses para nada, empresas de turismo fluvial, e por aí fora.

Ontem, a TVI dedicou largo espaço ao Ritz de Lisboa, que reabriu no passado dia 1 após quatro meses de encerramento.

Não me lembro de ter ouvido nenhuma referência a Pardal Monteiro, o arquitecto que desenhou o hotel inaugurado há 60 anos. Estamos a falar do arquitecto do Instituto Superior Técnico, da Biblioteca Nacional, da Reitoria e das Faculdades de Direito e de Letras da Universidade de Lisboa, do Instituto Nacional de Estatística, da Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, das Gares Marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos, da Estação Ferroviária do Cais do Sodré, do edifício onde funcionou (entre 1940 e 2016) o Diário de Notícias, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, do Hotel Tivoli, etc. Dito de outro modo, do arquitecto que fixou a imagem da Lisboa moderna. Qualquer das obras mencionadas faria boa figura em Berlim, Londres, Paris, Madrid e qualquer outra cidade europeia. Só me recordo de ouvir dizer: «O hotel ocupa um quarteirão inteiro... nestes corredores cabe um carro... » Se for um Smart cabem dois, diria eu.

Também não me recordo de ouvir referir o nome de nenhum dos artistas (e são dezenas) com obras espalhadas pelo átrio, paredes, salões, galerias, bar, restaurante, escadarias e quartos. Assim de repente, lembro-me de Almada Negreiros, cujas tapeçarias são uma das imagens de marca do hotel, Sarah Afonso, Carlos Botelho, Querubim Lapa, Sá Nogueira, Lagoa Henriques, Jorge Vieira, Carlos Calvet, Martins Correia e Bartolomeu Cid dos Santos. Mas sobram muitos, muitos mesmo. São poucos, em Portugal, os lugares em que a arte portuguesa está representada a este nível.

Alguém devia ter dado uma cábula ao autor da peça. É curto dizer que o hotel aproveitou o confinamento para «fazer barulho», metáfora usada para as obras de remodelação dos terraços e renovação total do restaurante Varanda «a caminho de uma estrela Michelin» e de todos os quartos.

Não tenho nada contra a publicidade, neste caso focada na certificação Clean and Safe. Mas o essencial ficou de fora. E tanto que havia para dizer.

Na imagem, a sala que serve de antecâmara do restaurante. Clique.