sábado, 18 de julho de 2020

CIMEIRA PANDÉMICA


Após 26 horas de negociações, divididas entre sexta-feira e sábado, a cimeira dos 27 ainda não conseguiu desbloquear a ajuda de emergência aos seus membros. O obstáculo tem sido Mark Rutte, o primeiro-ministro dos Países Baixos que exige direito de veto sobre os empréstimos, alguns a fundo perdido.

Os países do Sul teriam que, diz o mamífero holandês, antecipar reformas estruturais no mercado laboral e na segurança social, sem as quais o dinheiro não seria disponibilizado. Isto parece uma anedota, mas, até prova um contrário, reveste a forma de ultimatum.

Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, já cortou uma fatia do bolo, mas nem assim amansou o frugal-mor, que tem toda a gente contra ele, mas vai impondo a sua vontade.

A ver vamos o que acontece amanhã, terceiro dia da cimeira. Dará Merkel o esperado murro na mesa?

Clique na imagem.

PEQUENOS FORMATOS


São difíceis de arrumar, os pequenos formatos. Hoje andei às voltas com este octecto. De cima para baixo e da esquerda para a direita:

— O 90.º volume, publicado em 2015, da colecção Livrinhos de Teatro, dirigida por Jorge Silva Melo. Três peças de Albee, duas traduzidas por Rui Knopfli [The Zoo Story e The Sandbox] e uma por Egito Gonçalves [The Death of Bessie].

— Um conto de Susan Sontag sobre a Sida, The way we live now (1986), publicado no Brasil em 1995.

— Primeira edição de O Morto. Ode Didáctica, de João Pedro Grabato Dias. Lourenço Marques, 1971.

— Primeira edição de A Arca. Ode Didáctica na Primeira Pessoa, de João Pedro Grabato Dias. Lourenço Marques, 1971.

Insónia em Segunda Mão, 2010, poesia de Jorge Aguiar Oliveira, com argumento de Henrique Manuel Bento Fialho.

— Dois contos do século XI recolhidos da tradição oral celta Mabinogion [The Lady of the Fountain e The Dream of Macsen Wledig]. Phoenix, 1996.

— Edição autónoma, publicada no Brasil em 2002, do capítulo dedicado à Revolução Francesa no livro A Era das Revoluções (1962), de Eric Hobsbawm.

— Primeira edição de O Vale dos Malditos, de Ana Teresa Pereira. Black Son Editores, 2000.

Clique na imagem.

SALÁRIOS


De regresso à TVI, Cristina Ferreira vai ganhar 2,6 milhões de euros por ano. Com a publicidade, esse valor ultrapassará 3 milhões anuais. Não esquecer que só o IRS lhe vai comer 48% do bolo.

Por curiosidade, fui conferir o Relatório & Contas da EDP. Fiquei a saber que António Mexia, CEO da empresa até há poucos dias, auferiu, em 2019, um milhão de euros (ou, para ser exacto, um milhão e quinze mil euros). Em matéria de IRS está no escalão de Cristina.

Tudo visto, não vale a pena rasgar as vestes.

Clique na imagem.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

OZONOTERAPIA


Como sabe qualquer funcionário público, os beneficiários da ADSE esperam em média 96 dias pelo reembolso de 20% do dinheiro pago em consultas ou tratamentos. Noventa e seis dias (média) contados a partir do dia em que entregam a factura-recibo da despesa. O prazo pode ser, e muitas vezes é, maior.

Contudo, as clínicas visadas na Operação Terapia, que levou à prisão (ontem) de três médicos e dois enfermeiros, conseguiram receber meio milhão de euros da ADSE no curto lapso de tempo que decorreu desde o início da pandemia. Ou seja, pouco mais de 120 dias foram suficientes para pôr de pé o esquema fraudulento, convencer os incautos e pedir o reembolso. É obra!

Clique na imagem da TVI.

CIMEIRA COVID EM DIA DE ANIVERSÁRIO


Angela Merkel e António Costa celebram hoje os respectivos aniversários. A chanceler alemã faz 66 anos, e o primeiro-ministro português 59.

Nenhum dos dois podia imaginar que num dia de aniversário estariam juntos em Bruxelas, numa Cimeira da UE agendada para discutir e aprovar o plano de recuperação económica exigido pelos efeitos da pandemia Covid-19.

Desde o início da pandemia, é a primeira vez que o Conselho Europeu faz uma reunião presencial.

Clique na imagem.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

ESTADO SEGURA TAP

O Estado detém, a partir de hoje, maioria na TAP. Exactamente 72,5% do capital da companhia.

O decreto-lei que autoriza o Estado a adquirir as participações sociais, os direitos económicos e as prestações acessórias da TAP SGPS, bem como o alinhamento dos direitos económicos com os direitos de voto, foi hoje aprovado em Conselho de Ministros.

Parte do auxílio de emergência chega já este mês, sob a forma de pagamento dos salários dos trabalhadores, situação que de outro modo não seria ultrapassada.

POR FIM


Mário Centeno é o novo Governador do Banco de Portugal, decidiu hoje o Conselho de Ministros. A posse está marcada para a próxima segunda-feira, dia 20.

Lembrar que, na audição parlamentar (meramente consultiva), BE, PAN, CDS, IL e um deputado do PSD, votaram contra a nomeação do antigo ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo.

Clique na imagem.

FRAUDE COVID-19


No âmbito da Operação Terapia, em curso, a PJ deteve até ao momento cinco pessoas, dois homens e três mulheres, alegadamente três médicos e dois enfermeiros.

Segundo o comunicado da polícia, as prisões «relacionam-se com a realização de ozonoterapias, que não são comparticipadas pelos subsistemas de saúde, sendo que também não existe qualquer convenção ou protocolo entre a ADSE e as ditas clínicas. Acresce que as mesmas são realizadas por profissionais que não estão devidamente habilitados [...] Existem indícios de que os suspeitos recorrem ainda a práticas pouco esclarecedoras, convencendo os utentes de que a ozonoterapia se mostra eficaz no tratamento do Covid-19 ou que permite ganhar imunidade, explorando a fragilidade e vulnerabilidade de pessoas receosas do vírus ou mesmo infectadas...»

A fraude é susceptível de enquadrar os crimes de corrupção activa e passiva, burla qualificada, falsificação de documentos e propagação de doença.

As buscas, que prosseguem, envolvem clínicas que realizavam testes ao Covid-19 «sem para tal estarem licenciadas ou reunirem as condições necessárias, designadamente de direcção clínica

Clique na imagem da RTP.

FUTEBOL & PANDEMIA


O FCP ganhou mais uma vez o campeonato nacional e, como é natural, milhares de adeptos invadiram a Praça Velasquez e os Aliados. A festa estendeu-se pela madrugada. Nada de novo.

A tranquibérnia repete-se em Lisboa quando ganha o Benfica. Novidade mesmo só a reacção dos moralistas de serviço. Desta vez não arrancaram as vestes como fizeram aquando da parcimoniosa celebração do 25 de Abril no Parlamento e da coreografia do 1.º de Maio na Alameda.

Diz a imprensa que, com a intervenção do Corpo de Intervenção da PSP, tudo acabou a murro e pontapé.

Rui Moreira bem pode dizer que uma situação não prevista (não prevista na Coreia do Norte, presumo), por oposição às datas fixas dos feriados nacionais, é insusceptível de controlo. Então ficamos assim.

A foto é do Expresso. Outras há mais eloquentes, mas não serei eu a divulgar os rostos da tranquibérnia portista. Clique.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

A TRANQUIBÉRNIA


Seis anos e 4.117 páginas depois, foi deduzida ontem a acusação contra Ricardo Salgado e outros dezassete responsáveis pela implosão do Grupo Espírito Santo. Sete empresas também foram acusadas. Está em jogo um buraco de 11,8 mil milhões de euros.

Acusação: associação criminosa, corrupção activa, falsificação de documentos, burla qualificada, etc. Portanto, em 2036 talvez haja novidades.

Ainda bem que a TVI lembrou ontem, com imagens eloquentes, os statements feitos ao longo de meses por Cavaco, Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque e Carlos Costa. Em Junho de 2014 ainda o PR, o primeiro-ministro, a ministra das Finanças e o governador do Banco de Portugal garantiam que o Banco Espírito Santo tinha uma idoneidade só comparável à Senhora de Fátima, levando milhares de portugueses (sobretudo emigrantes na Suíça e no Luxemburgo) a comprar acções obrigacionistas e outro tipo de lixo. 

E quando foi da resolução, Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque também garantiram enfaticamente que os portugueses não pagariam um cêntimo pelo Novo Banco. Viu-se.

Está na altura de Vítor Gonçalves Loureiro (RTP) fazer duas entrevistas: uma a Cavaco Silva, outra a Miguel Frasquilho.

Imagem: excerto da capa do Público. Clique. 

terça-feira, 14 de julho de 2020

O ÓBVIO ULULANTE


O Supremo Tribunal Administrativo mandou o deputado Cotrim Figueiredo dar uma volta ao jardim da Celeste. Dito de outro modo: rejeitou a providência cautelar interposta pela IL para impedir a posse de Mário Centeno como Governador do Banco de Portugal.

Não estando em causa uma quebra da legalidade, o STA declarou-se incompetente para avaliar uma acção de natureza política: «A nomeação do Governador do Banco de Portugal resulta de uma escolha e vontade do Conselho de Ministros mediante proposta do ministro das Finanças e após audição por parte da comissão competente da Assembleia da República, nomeação essa que é uma escolha política...»

Um dos argumentos da IL prende-se com o diploma do PAN que visava introduzir um período de nojo de cinco anos. Mas o processo abortou. O STA lembra que «a lei ainda não foi aprovada e não está em vigor, sendo irrelevante, até porque só dispõe para futuro...»

Clique na imagem.

GEDEÃO


Descobri António Gedeão (1906-1997) por intermédio deste volume de 1964. Estava em Lisboa de férias, tinha 15 anos e ia a subir a Rua do Carmo quando vi o livro na montra da Livraria Portugal. Não conhecia nenhum dos quatro livros anteriores de Gedeão.

Num extenso e polémico prefácio, Jorge de Sena sublinha: «O tremendo mal do nosso tempo, que é a cisão entre uma cultura literária que se pretende largamente humanística e é apenas uma forma organizada de ignorância do mundo em que vivemos...»

Ora bem. Nesta breve síntese talvez resida a desconfiança com que a Academia avalia Gedeão (não confundir Academia com honrarias oficiais e genuíno apreço popular). É um erro, porquanto todos devemos a Gedeão «a inteligência das coisas» que nos deu, como ele diz num poema dedicado a Galileo.

Havendo uma edição mais recente da obra completa do autor, arrumada em lugar visível, tinha este volume da Portugália em segunda fila. Hoje, procurando em vão outro livro, dei com ele, ficando a pensar no que escrevi há anos: «A partir do não-lugar que fizeram seu, Gedeão assombra a normatividade.» [cf. Eduardo Pitta, Um Rapaz a Arder, Lisboa: Quetzal, 2013]

É só ler e tirar conclusões.

Clique na imagem.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

E NÓS POR CÁ?

Oitenta e três bilionários da Alemanha, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Nova Zelândia, Países Baixos e Reino Unido, divulgaram em carta aberta a necessidade de ser agravada a carga fiscal dos muito ricos:

«À medida que a Covid-19 atinge todo o mundo, milionários e bilionários como nós têm um papel importante a desempenhar no mundo. [...] Não somos nós quem cuida dos doentes internados em unidades de cuidados intensivos, nem conduzimos ambulâncias [...] nem fazemos o reabastecimento de supermercados. [...] Mas temos muito dinheiro. Dinheiro que é extremamente necessário agora e que vai continuar a ser necessário nos próximos anos, à medida que o mundo recupera desta crise. Hoje, nós, milionários que assinamos esta carta, pedimos aos nossos governos que subam os impostos sobre pessoas como nós. Imediatamente. Substancialmente. Permanentemente. [...] A crise vai durar décadas. [...] É necessário reequilibrar o mundo antes que seja demasiado tarde. [...] Não estamos a lutar na linha da frente desta emergência e temos menos probabilidade de sermos vítimas. Por isso, por favor, tributem-nos. Tributem-nos. Tributem-nos. É a escolha certa

Entre os signatários estão Richard Curtis, Abigail Disney e Jerry Greenfield.

domingo, 12 de julho de 2020

PARA QUANDO REEDITAR JAMES?


Ando deliciado a reler P.D. James (1920-2014), autora de thrillers policiais excelentíssimos, um deles este Pecado Original, nono dos catorze romances que têm Adam Dalgliesh — inspector da Scotland Yard e poeta — como protagonista.

Phyllis Dorothy James, baronesa de Holland Park, publicou 24 livros entre 1962 e 2011. Formada em administração hospitalar, trabalhou durante vinte anos para o NHS. Mais tarde integrou o departamento de Medicina Legal da Yard, o que explica as minuciosas descrições das suas obras.

Foi a partir da morte precoce do marido, ocorrida em 1964, que se dedicou a tempo inteiro à escrita, embora a estreia (com Cover Her Face, romance que inscreve Adam Dalgliesh na galeria de personagens da literatura de língua inglesa) seja anterior.

Por duas vezes desviou-se do thriller clássico: em 1992 com The Children of Men, uma distopia teológica que Alfonso Cuarón levou ao cinema em 2006, com Clive Owen e Julianne Moore nos principais papéis; e em 2011 com Death Comes to Pemberley, uma sequela pós-moderna de Orgulho e Preconceito de Jane Austen. Claro que só uma autora da envergadura de James podia arriscar, sem cair no ridículo, glosar Austen.

Morte em Ordens Sagradas (2001) e A Sala do Crime (2003), ambos com Martin Shaw no papel de Adam Dalgliesh, são dois exemplos de romances seus adaptados à televisão pela BBC.

Não estará na altura de trazer de volta às livrarias portuguesas estes livros admiráveis?

Clique na imagem.