sexta-feira, 4 de março de 2016

SWAPS BY MARIA

O Tribunal Comercial de Londres condenou o Estado português a pagar 1,8 mil milhões de euros ao Santander, que se considera lesado com o cancelamento de nove contratos swap. O cancelamento dos contratos foi decidido em 2013, por Maria Luís Albuquerque, então ministra das Finanças. Mais um imbróglio do Governo PSD-CDS que cai no colo de Costa e nas algibeiras dos contribuintes. A parte anedótica é que, lendo e ouvindo os media, a generalidade das pessoas fica convencida que a decisão de não pagar foi tomada pelo Governo actual.

OS HOMENS DO PRESIDENTE

A cinco dias da posse de Marcelo, são conhecidos quase todos os homens do Presidente. O chefe da Casa Civil é Fernando Frutuoso de Melo, 60 anos, diplomata. Vem de Bruxelas, onde exerce o cargo de director da política de cooperação e ajuda externa da Comissão Europeia. O chefe da Casa Militar é João Carvalho Cordeiro, 57 anos, general da Força Aérea e chefe da Missão Militar junto da NATO e da União Europeia. Também vem de Bruxelas. O assessor diplomático vem de Moçambique: José Augusto Duarte, 52 anos, embaixador de Portugal em Maputo (e embaixador não-residente na Suazilândia, Tanzânia, Seychelles e Maurícia). O assessor jurídico é Miguel Nogueira de Brito, 50 anos, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. O assessor cultural é Pedro Mexia, 43 anos, poeta, cronista e crítico literário. O assessor para a área do empreendedorismo e inovação é Luís Ferreira Lopes, jornalista, antigo director de economia da SIC. O assessor político mantém-se: é António Araújo, administrador da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Para o gabinete de imprensa vão Mariana Corrêa e Duarte Vaz-Pinto, mas ainda se desconhece o nome do futuro titular.

quinta-feira, 3 de março de 2016

TUDO CONFORME

Maria Luís Albuquerque foi contratada como administradora não executiva da Arrow Global. A Arrow Global não é uma loja de Cupcakes da Lx Factory. É a multinacional britânica que comprou dívida portuguesa e créditos ao Banif. Em comunicado, a ex-ministra de Estado e das Finanças declara não existir nenhuma incompatibilidade ou impedimento legal na contratação.

EM HEBRAICO


Recebi hoje a antologia hebraica Cavafy’s Sons and Grandsons, organizada e traduzida por Rami Saari e publicada em Israel. Portugueses somos três: Cesariny, com seis poemas, Nava com onze, e eu próprio com dez. Infelizmente não é bilingue. A edição foi patrocinada pelo Helsinki Collegium for Advanced Studies. Clique na imagem.

ANTÓNIO FILIPE 1961-2016


Com 55 anos, morreu esta madrugada, de paragem cardíaca, o actor e cenógrafo António Filipe que alguns de nós puderam ver em peças de Lorca, Brecht, Pinter, Shakespeare, Calderón, Orton, Sam Shepard, Botho Strauß e outros. Natural de Moçambique, António Filipe era um dos actores dos Artistas Unidos.

PATRICIA HIGHSMITH


Hoje na Sábado escrevo sobre Carol, de Patricia Highsmith (1921-1995). Por vezes, um escritor torna-se conhecido em todo o mundo pela adaptação ao cinema de um livro seu, e com Highsmith foi logo com o primeiro, Strangers on a Train (1950), um dos thrillers mais populares do século XX, a partir do qual Hitchcock realizou o clássico que conhecemos por O Desconhecido do Norte Expresso. Sucede o mesmo com O Preço do Sal (1952), que agora lemos como Carol. No posfácio, Ana Luísa Amaral, tradutora da obra, lembra que o livro, tratando a relação amorosa entre duas mulheres, foi publicado sob o pseudónimo de Claire Morgan, assim se mantendo durante mais de três décadas. Seria preciso esperar por 1990, quando o livro foi publicado no Reino Unido com o nome da autora, para que a generalidade dos leitores ficasse a par daquilo que era um segredo de polichinelo no milieu literário. Nunca tendo escondido a condição lésbica, Patricia Highsmith não era activista gay. Mesmo da forma elegante como desenvolve a intriga, compreende-se que nos anos 1950, no auge do McCarthismo, não fosse fácil tratar a história de amor entre Carol e Therese sem lhe associar conotação pejorativa e sanção moral. Highsmith, que se tornaria um ícone da literatura policial (não esquecer que foi a criadora de Mr. Ripley), inspirou-se na figura de uma antiga amante, Virginia K. Catherwood, uma mulher casada da alta sociedade de Filadélfia, para compor a personagem de Carol, também casada e mãe. Ao comprar uma boneca para a filha, Carol conhece Therese, então com 19 anos, a trabalhar em part-time num armazém de Manhattan. Foi esse o duplo detonador do romance, isto é, da relação entre ambas e da escrita do livro. A realidade interpõe-se: na posse de provas do adultério, o marido retira-lhe a custódia da filha: «Julgo que ela me vai poder visitar umas duas tardes por ano. Muito de vez em quando. Perdi completamente. […] O Harge contou tudo aos advogados — o que eles ainda não sabiam.» Mas também perde Therese, que recusa uma vida a duas. Seria pleonástico sublinhar a destreza com que Highsmith nos envolve na trama psicológica. Quatro estrelas.

ERA UMA VEZ

Após cinco meses de investigação conduzida por entidades que fazem a revisão de artigos científicos, a Organização Europeia de Biologia Molecular cancelou a bolsa de 50 mil euros anuais que estava atribuída a uma investigadora portuguesa, Sónia Melo, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde. O instituto, que pertence à Universidade do Porto, suspendeu de imediato as suas funções. Sónia Melo é acusada de manipulação (repetindo imagens microscópicas da mutação genética de um cancro) num artigo publicado na revista Nature Genetics, em 2009. O texto foi retirado. A autora declarou «não ter havido um esforço para cometer fraude». Outros três artigos seus estão agora sob investigação. Lembrar que, no ano passado, Sónia Melo foi uma das laureadas dos prémios L’Oréal Portugal para Mulheres na Ciência, recebendo 20 mil euros.

FATWA

Fui ouvir a entrevista que Henrique Raposo deu à SIC Radical no passado 19 de Fevereiro. Tinha lido Alentejo prometido, uma memorabilia das origens do autor. E não ouvi nada, repito, nada, que mereça controvérsia. Discurso directo: «Quando pensei escrever o livro tinha a esperança de que iria encontrar as minhas raízes alentejanas, que iria ver uma luz debaixo do chaparro… Mas nunca encontrei e é um livro duro por causa disso, porque é a minha separação com o Alentejo.» Sei por experiência própria que o crime de lesa-identidade não tem perdão.

Em 1999, entrevistado pela RTP, à pergunta sobre se me considerava moçambicano, respondi: «Sou português, nasci em Moçambique como podia ter nascido na China.» Fui para Nova Iorque no dia seguinte e, no regresso, tinha o correio inundado de “indignações”. Assim entrei no limbo. É o lado para que durmo melhor, mas dá a medida do nonsense. (Um dia, no Palácio Conde de Penafiel, um embaixador quis saber se eu pensava mesmo isso.) Voltando ao livro e à entrevista de Raposo: é nauseante assistir ao destrambelho geral. Portanto, resta-me tirar o chapéu a Rentes de Carvalho, que vem de Amesterdão a Lisboa apresentar Alentejo prometido. A fatwa não nos pode inibir.

quarta-feira, 2 de março de 2016

NOÉMIA DELGADO 1933-2016


Com 82 anos, morreu hoje a cineasta Noémia Delgado um dos nomes centrais do cinema documental português. Máscaras (1976), sobre os caretos e as festas tradicionais do ciclo de Inverno nas aldeias de Trás-os-Montes, é uma das suas obras mais conhecidas. Noémia Delgado nasceu na Huíla, mas foi para Lourenço Marques antes de completar um ano de idade, ali vivendo durante mais de vinte anos. Saiu de Moçambique em 1955, e foi casada (1957-71) com o poeta Alexandre O’Neill, de quem teve um filho, o fotógrafo Alexandre Delgado O’Neill (1959-93), já falecido.

DISCURSO DIRECTO, 40

Ferreira Fernandes, hoje no Diário de Notícias. Excerto, sublinhado meu:

«Henrique Raposo é cronista do Expresso e acaba de escrever um livro sobre si e os seus. E sobre o Alentejo, que veio por arrasto, porque a família de Raposo emigrou de lá para a periferia de Lisboa. E sobre o Alentejo, que se tornou a personagem do livro porque o autor andou-se à procura [...] E mais não digo, porque não cabe aqui mais do que aqui me traz. E o que aqui me traz é o seguinte: o Henrique Raposo tem direito a escrever o que lhe der na gana. Sucedeu depois outra coisa: muitas pessoas não gostaram do livro e passaram a não gostar do Raposo (ou já vinha de trás). Sobre isso, o seguinte: também têm direito. Até de não gostarem, não tendo lido, e não gostarem pela cara do Raposo. Têm direito a isso e a dizê-lo. Olha, até podem fazer um livro sobre o Raposo. [...] Essa é a fronteira que não podem ultrapassar. Não podem tentar calar livro e autor. O livro ia ser lançado num sítio mas já não vai, para o sítio não estar ligado ao livro — o que não diz nada do livro, e muito do sítio. Mudou-se para outro lugar, Bertrand (Picoas), dia 8, às 18.30, e a editora avisou a PSP. Fiquei avisado: devo lá estar

Post scriptum meu: Alentejo prometido, o livro em apreço, com o estar bem escrito, demonstra algumas verdades incómodas. Quarenta anos de democracia não foram suficientes para Portugal conseguir olhar-se ao espelho. Triste.

terça-feira, 1 de março de 2016

SUMMAVIELLE NO CCB

João Soares demitiu António Lamas. Elísio Summavielle, antigo secretário de Estado da Cultura e antigo director-geral do Património, é o novo presidente do CCB. Com a extinção, no passado 18 de Fevereiro, da estrutura criada em Junho do ano passado pelo Governo PSD-CDS para gerir todos os equipamentos culturais situados entre o alto da Ajuda e o Tejo (Centro Cultural de Belém, Planetário Calouste Gulbenkian, Mosteiro dos Jerónimos, museus dos Coches, Cordoaria Nacional, Picadeiro da Escola Portuguesa de Arte Equestre, palácios nacionais de Belém e da Ajuda, palácio dos Condes da Calheta, Ermida de São Jerónimo, Museu de Arte Popular, Torre de Belém, Gare Marítima de Alcântara, Museu Nacional de Etnologia, Museu de Marinha, Jardim Botânico Tropical, Jardim Botânico da Ajuda, Igreja da Memória, etc.), estrutura que não chegou a funcionar mas faria de Lamas uma espécie de “alcaide” do eixo Ajuda-Belém, o ministro da Cultura manifestou vontade em substituir a direcção do CCB. A 26 de Fevereiro, João Soares tornou público que aguardava o pedido de demissão de Lamas até ao meio-dia do dia 29. Como a carta não chegou, Lamas foi ontem ao princípio da noite chamado  ao gabinete de João Soares, recebendo das mãos do ministro cópia do despacho da sua exoneração. Em simultâneo, os media foram informados da nomeação de Summavielle.