quinta-feira, 29 de novembro de 2018

OE 2019 APROVADO


Com os votos do PS, BE, PCP, PEV e PAN, o OE 2019 foi aprovado hoje em votação final global. É o quarto Orçamento de Estado aprovado pela maioria de Esquerda, sem nunca ter havido necessidade de orçamentos rectificativos (como aconteceu com todos os orçamentos de Passos & Portas). No discurso de encerramento, o primeiro-ministro anunciou que Portugal vai liquidar, até ao fim de Dezembro, o empréstimo do FMI.

Clique na imagem do Público.

LARGO JOSÉ SARAMAGO


O Campo das Cebolas vai passar a designar-se Largo José Saramago. O PSD e o CDS votaram contra, tendo os sociais-democratas alegado que a decisão configura «um substancial desrespeito à história da cidade». Para quem não sabe, o Campo das Cebolas ocupa toda a área compreendida entre a Rua dos Bacalhoeiros e a Rua Infante Dom Henrique, sendo atravessado pela Rua da Alfândega.

Fernando Medina lembrou que a designação ‘Campo das Cebolas’ nunca esteve registada na toponímia da cidade. No local, encontra-se a Fundação José Saramago, que desde 2012 ocupa a Casa dos Bicos, uma extensão do Museu da Cidade.

Clique na imagem.

VITORINO NEMÉSIO


Hoje na Sábado escrevo sobre Poesia 1916-1940, o primeiro volume da obra completa de Vitorino Nemésio (1901-1978), poeta, ficcionista, dramaturgo, ensaísta, memorialista e cronista. Em boa hora a Imprensa Nacional, em parceria com a Companhia das Ilhas, decidiu reeditar a Obra. A este volume seguir-se-ão outros três de poesia, mais três de ficção e teatro, quatro de ensaio, e ainda seis de diário e crónicas. O presente volume, da responsabilidade de Luiz Fagundes Duarte, colige a poesia da juvenília — ou seja, a que foi publicada antes de 1935 —, acrescentando-lhe dois livros centrais à maturidade do autor: O Bicho Harmonioso (1938) e Eu, Comovido a Oeste (1940). Inclui também o prefácio escrito por Nemésio quando pela primeira vez organizou a sua poesia ‘completa’. Leitor de português na Universidade de Montpellier, foi ali que Nemésio deu à estampa La voyelle promise (1935), mas, passados 83 anos, não faz sentido continuar a publicar o livro em francês: as edições bilingues servem para preservar o texto original. Seria pleonástico insistir na importância da poesia nemesiana: «Mas então isto que é? Que violino engoli? / Que frauta rude aveludou a minha noite?» Uma voz de oiro. Cinco estrelas. Publicou a Imprensa Nacional em parceria com a Companhia das Ilhas.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

MARIALVISMO

Com os votos do PCP, PEV, PSD, CDS e 43 deputados do PS (incluindo o presidente do grupo parlamentar), o Parlamento aprovou a descida do IVA para as touradas, chumbando a proposta do Governo para o OE2019.

O BE, 40 deputados do PS e o deputado do PAN, votaram contra.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

IDIOTIA, BIRRAS & CHUVA DOURADA


Convém ler para perceber a natureza do homem. É pior do que se avalia à distância, mas nem todas as percepções, deste lado do Atlântico, são correctas. Há outro lado curioso: um livro destes, com este tipo de informação sobre assuntos de Estado, seria possível em Portugal?

Por exemplo, aqui ou em qualquer outro país europeu, seria possível publicar um livro sobre Chefes de Estado ou de Governo, em funções, com cenas de natureza sexual explícita?

Bob Woodward cita o episódio escabroso, transcrito de um relatório da CIA, sobre cenas de chuva dourada... na suíte presidencial do Ritz Carlton de Moscovo, com prostitutas contratadas para o efeito. Episódio gravado e filmado pelo FSB (ex-KGB) da Rússia. Quem viu House of Cards não fica surpreendido. Mas isto não é uma série de ficção. Estamos a falar de um livro de História em tempo real, escrito pelo jornalista mais respeitado da América.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

BERNARDO BERTOLUCCI 1941-2018


Agora que Bertolucci nos deixou, talvez não fosse má ideia a RTP transmitir um ciclo de filmes seus, começando com o extraordinário Novecento, que entre nós se chamou 1900. Como muito gente estará lembrada, o filme, devido à sua duração, era exibido em duas partes, de 160 minutos cada, a primeira no São Jorge, e a segunda no Mundial, que já não existe (era na Rua Martens Ferrão, em Picoas, junto ao palácio Sotto Mayor). Nunca mais se fez um filme como Novecento, hoje mais do que nunca importante, porque ajuda a explicar os últimos cem anos.

Mas também me apetecia rever O Conformista, A estratégia da aranha, La Luna, A tragédia de um homem ridículo, Os sonhadores. Bertolucci é um mestre de interditos, sem as transgressões operáticas de Visconti, os álibis intelectuais de Antonioni, ou a cenografia do excesso que fez a imagem de marca de Fellini, e talvez por isso, até por ter construído a obra no início do ocaso do cinema europeu, não gozou da idolatria votada a este trio de conterrâneos.

Vá, não custa nada, e não é preciso ir buscar o filme que deu novos usos à margarina, nem o outro que lhe valeu um óscar.

METRO & DESINVESTIMENTO


O desinvestimento do Estado no SNS, em obras públicas, transportes e comunicações, verificado entre 2011 e 2015, por opção de Passos, Portas, Gaspar e Maria Luís, reflecte-se agora no nosso dia-a-dia. Salvam-se as autoestradas, geridas, felizmente, por parcerias público-privadas.

O que se passou esta manhã na linha verde do Metro de Lisboa (carruagens cheias de fumo), o que passa há oito meses consecutivos com os comboios da REFER, as falhas notórias do Serviço Nacional de Saúde, etc., são consequência imediata desse desinvestimento.

Sobre o Metro, em particular, convém lembrar o estado em que se encontram as estações de Arroios e do Areeiro. A primeira está encerrada desde Julho de 2017, prevendo-se a reabertura para Novembro de 2019. A segunda tem metade do cais encerrado: embora concluído, o prolongamento feito entre 2008 e 2014 nunca foi aberto. Ao fim de dez anos de obras, os utentes continuam a ter de sair pelo lado Sul, porque o lado Norte, com acesso directo à estação de comboios, mantém-se encerrado. A Câmara lava as mãos.

Não chega ter posto travão no desinvestimento. O Governo tem mesmo de intervir a fundo nessas áreas. O SNS e os transportes públicos são mais importantes que as reivindicações salariais dos sectores profissionais do costume.

Na imagem, uma das entradas da estação do Intendente, esta manhã. Clique.

domingo, 25 de novembro de 2018

25 DE NOVEMBRO


Faz hoje 43 anos Portugal esteve à beira da guerra civil. Eu tinha chegado há exactamente dezassete dias, ou seja, naquele 8 de Novembro em que o VI Governo Provisório mandou dinamitar os emissores da Rádio Renascença, controlada pela extrema-esquerda.

Sobre o 25 de Novembro, transcrevo do meu livro de memórias:

Dias depois desse reencontro aconteceu o 25 de Novembro. Passei o dia no Estoril, a tal ponto alheado dos acontecimentos que fui com o Jorge jantar a Lisboa e a seguir ao cinema. O Galeto teria talvez uma dúzia de clientes, mas no primeiro balcão do Império éramos os únicos espectadores. Só no comboio de regresso a casa soubemos do recolher obrigatório. O passeio impediu que tivéssemos visto Duran Clemente a ser substituído por Danny Kaye — The Man from the Diner’s Club foi o sinal inequívoco de que o PREC tinha acabado.

Com a imprensa nacionalizada desde a intentona de 11 de Março de 1975, o Governo impôs um período de nojo. Não se publicaram jornais durante mais de quinze dias. Quem quisesse saber o que se passava em Portugal, ouvia a BBC ou comprava o Monde. A excepção era o Expresso, que durante dois meses (entre 5 de Novembro de 1975 e 7 de Janeiro de 1976) foi bissemanário, saindo às quartas e sábados. A edição extra era feita por Vicente Jorge Silva e Helena Vaz da Silva.

Dos restantes, o primeiro a reaparecer foi o Diário Popular, que voltou à rua a 11 de Dezembro, mantendo Jacinto Baptista na direcção. Nesse mesmo dia começou a publicar-se um jornal ultraconservador, O Dia, dirigido por Vitorino Nemésio. O Diário de Notícias esteve fechado praticamente um mês, voltando às bancas a 22 de Dezembro. Victor Cunha Rego era o director, e Mário Mesquita o adjunto. [...]

Entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975, o Diário de Notícias fora porta-voz do Partido Comunista. Depois do saneamento dos 24, a direita lançou um slogan tonitruante: O diário é do povo, não é de Moscovo! Luís de Barros, marido de Maria Teresa Horta, era o director, mas quem de facto mandava era Saramago.

A contra-revolução não surpreendeu ninguém. O detonador foi a demissão de Otelo Saraiva de Carvalho do comando da Região Militar de Lisboa. Vasco Lourenço, que o substituiu, pôs um travão nas veleidades da extrema-esquerda militar e civil. Ao mesmo tempo, Soares induziu Pinheiro de Azevedo a cessar funções, dando origem à greve do Governo, com início a 19 de Novembro. Ministros e deputados trocaram Lisboa pelo Porto. Francisco Sá Carneiro estava na RFA. A Constituinte suspendeu os trabalhos por oito dias. Para quem estava de fora, a história conta-se numa frase: Soares e os militares moderados fizeram abortar a Comuna de Lisboa, pondo fim a dezanove meses de excessos. Se quisermos ver as coisas com distanciação histórica, diremos, com Jorge Silva Melo — «ao deixar Soares ser apoiado pela direita a partir da Alameda, é o 25 de Novembro que nasce». Vale a pena meditar.

Grosso modo, os militares moderados eram representados pelo fleumático Grupo dos Nove, que em Setembro forçara a substituição de Vasco Gonçalves por Pinheiro de Azevedo. A mudança foi decisiva. De nada valeu aos pára-quedistas terem ocupado o comando da 1.ª Região Aérea (Monsanto) e as bases de Tancos, Monte Real, Montijo e Ota. A sua acção foi pouco mais que simbólica. O poder de fogo havia sido transferido para o Norte, Costa Gomes obteve de Cunhal a neutralidade do PCP, e o Regimento de Comandos da Amadora, liderado por Jaime Neves, obrigou a Polícia Militar a render-se.

Quando a normalidade foi reposta, um tenente-coronel de que pouca gente ouvira falar, Ramalho Eanes, assumiu a chefia do exército. Sete meses depois, a 27 de Junho de 1976, com o apoio de Soares e de toda a direita, mesmo a mais revanchista, Eanes tornou-se o primeiro Presidente eleito por sufrágio directo e universal. Otelo e Pinheiro de Azevedo também concorreram. [...]» — Eduardo Pitta, Um Rapaz a Arder, Lisboa: Quetzal, 2013.

DONE


Os líderes dos 27 aprovaram esta manhã o termos do acordo de saída do Reino Unido. Ao dossier de 500 páginas divulgado no passado dia 14, juntou-se hoje um protocolo de 26 páginas que estabelece as bases do relacionamento do reino de Sua Majestade com a UE a partir de 29 de Março de 2019. Por exemplo, os 27 vão manter o direito de pescar em águas britânicas.

Agora falta o mais difícil: aprovar o Acordo no Parlamento britânico (a votação deverá ocorrer a 11 de Dezembro). Na hipótese provável de um chumbo, quem sai a perder é o Reino Unido. Uma saída à bruta, como pretendem os adversários de Theresa May, prejudicaria toda a gente, a começar pelos britânicos.

sábado, 24 de novembro de 2018

PARIS, HOJE


Unidas, a extrema-direita (Le Pen) e a extrema-esquerda (Mélenchon) francesas, respaldam o movimento dos coletes amarelos que hoje assola Paris. Com a Place de l’Etoile, os Champs-Élysées e a Place de la Concorde interditas a manifestações, porém ocupadas, os confrontos começaram.

Três mil agentes da polícia de choque, blindados equipados com jactos de água, nuvens de gás lacrimogéneo, estilhaços pelo ar, viaturas vandalizadas, lojas a encerrar e caos generalizado, parisienses blasé e turistas barricam-se onde podem. E ainda agora a tarde começou.

Clique na foto do Libération.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

TRAGÉDIA NO ALENTEJO


Estão já confirmadas cinco mortes no colapso de parte da estrada que liga Borba a Vila Viçosa. O abatimento desse troço de estrada (ocorrido por volta das 15:40), numa extensão de cerca de duzentos metros, arrastou para dentro de uma pedreira, alagada e com muitos metros de altura, uma retroescavadora, duas viaturas ligeiras e vários operários.

Clique na foto de António Moizão, publicada no Facebook.

domingo, 18 de novembro de 2018

CORBYN & BREXIT


Jeremy Corbyn, líder dos Trabalhistas britânicos, deu hoje uma entrevista à Sky News. Quem esperava encontrar nele um aliado para a tese do segundo referendo, desiluda-se. Um grande balde de água fria para muita gente.

Síntese das suas palavras:

«O referendo aconteceu em 2016, a maioria das pessoas votou para deixar a UE. Não podemos convocar um referendo e pô-lo de parte se não gostamos do resultado

«O artigo 50 foi accionado e isso tem que ser respeitado

«O que podemos fazer é reconhecer as razões pelas quais as pessoas votaram em sair

[Um segundo referendo seria] «uma opção para o futuro, mas não é uma opção para hoje. Se houvesse um referendo amanhã, qual seria a pergunta? Eu não sei como votaria.»

«Vamos votar contra o Acordo porque ele não serve o interesse do Reino Unido

«O Governo tem que voltar a renegociar rapidamente. Há 500 páginas neste documento, muitas das quais são bastante vagas. Onde está a garantia de protecção ambiental? Onde está a garantia de protecção do consumidor? Onde está a garantia sobre os direitos dos trabalhadores

Claro como água.

Clique na imagem do Guardian.

sábado, 17 de novembro de 2018

HORROR


São já 71 os mortos de Paradise, na Califórnia. O número de pessoas desaparecidas ultrapassou as mil. A cidade reduzida a cinzas, mais de dez mil viaturas calcinadas. E os animais de companhia não contabilizados? O horror na sua forma mais exacta.

Clique nas fotos de Josh Edelson, da France Press.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

EUROSONDAGEM


Maioria de Esquerda = 56,5%. Sozinho, o PS ultrapassa o PSD em 15%. E a PAF em 8%. Em termos de popularidade, Costa tem um saldo positivo de 34,4% contra 9,8% de Rui Rio e 0,2% de Catarina Martins. Entronização só com Marcelo: 64,8%.

Clique no gráfico do Expresso.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

MARIA JUDITE & PUCHNER


Hoje na Sábado escrevo sobre o segundo volume das obras completas de Maria Judite de Carvalho (1921-1998), contista e cronista de excepção. É importante que a obra da autora esteja a ser reeditada. Este volume colige duas colectâneas de contos — Paisagem Sem Barcos, 1963, O Seu Amor Por Etel, 1967 — e uma novela, Os Armários Vazios, 1966. Os acidentes biográficos talvez expliquem a rigidez do seu universo ficcional. Vivendo os pais na Bélgica, nasceu em Lisboa por acaso. Longe dos pais, foi educada por tias em ambiente austero. Mais tarde, acompanhou Urbano Tavares Rodrigues, seu marido, num exílio de vários anos em França. A partir de 1959, ano em publicou o primeiro livro, a colectânea de contos Tanta Gente, Mariana (a mais aclamada das suas obras), fixou por direito próprio o lugar que ocupa na Literatura portuguesa. Personalidade apagada, um tanto por contraponto ao perfil mundano do marido, escritor mediático e activista político, outro tanto por motivos de saúde (chegando nos últimos anos à deformação física), a obra reflecte o imaginário recalcado, cinzento, mesquinho e acomodado da sociedade portuguesa dos anos 1950 e 1960: «Uma amálgama de acontecimentos sem interesse e sem sentido.» Em contrapartida, a escrita da autora não tem nada de inócua. Bem pelo contrário. Numa prosa só na aparência desprendida, dominando bem os monólogos interiores, Maria Judite de Carvalho capta as subtis harmónicas do quotidiano, o espírito peganhento do tempo a enredar vidas sem horizonte, o confronto com outras realidades: «O Times é um jornal sério, não mente nem peca por omissão.» A novela Os Armários Vazios faz o retrato nítido do Portugal salazarista visto sob o ângulo da pequena-burguesia urbana, a pobreza envergonhada de Dora Rosário, «viúva de carreira», fumando um cigarro depois do café, vestida de preto durante dez anos, até ao dia em que a sogra lhe disse que o filho pensava viver com outra. Traços distintivos do meio em que Dora se movia, como abulia, resignação e preconceito, são descritos com sarcasmo. À beira dos 40, Dora muda a imagem. A filha fez o liceu, aprendeu línguas, podia perfeitamente ser hospedeira da TAP. O desfecho é absolut sixties. Quatro estrelas. Publicou a Minotauro.

Escrevo ainda sobre a obra mais recente do filósofo e ensaísta alemão Martin Puchner (n. 1969), O Mundo da Escrita. O subtítulo dá a medida da ambição: O poder das histórias que formaram os povos e as civilizações. Especialista em vanguardas e professor em Harvard, Puchner escreveu esta história da literatura universal dos primórdios — Épico de Gilgames, Homero, Bíblia hebraica, etc. — às novas tecnologias da escrita, como propiciadas pela Internet, passando pelo «puré medieval» com que J.K. Rowling molda a saga Harry Potter… Numa prosa envolvente, doseando erudição, humor e uma quota de imprevisto (a introdução aborda alguns aspectos da missão Apollo 8), Puchner faz close reading de obras que são património da humanidade. Entre outros, Cervantes, Goethe, Marx, Akhmátova, Soljenítsin e Walcott são apresentados com brilho. O fio condutor une As Mil e Uma Noites com a literatura pós-colonial, sem ignorar o contexto político de cada época. Uma obra indispensável, que inclui portfolio fotográfico. Cinco estrelas. Publicou a Temas e Debates.

BREXIT


Dominic Raab, 44 anos, ministro da Justiça, ministro da Habitação e Secretário de Estado responsável pela negociação do Brexit — Secretary of State for Exiting the European Union —, demitiu-se 24 horas depois da aprovação, em conselho de ministros, do draft final do documento.

Argumenta ele, em carta dirigida a Theresa May, não poder concordar com o regime regulamentar proposto para a Irlanda do Norte («uma ameaça muito real à integridade do Reino Unido»), nem ao dispositivo híbrido das obrigações aduaneiras futuras («um regime extenso, imposto externamente, sem qualquer controlo democrático sobre as leis a serem aplicadas»). OK.

Já toda a gente percebeu que o cavalheiro está a pôr-se a jeito para substituir a primeira-ministra britânica. Mas, admitindo que os argumentos são sólidos, coloca-se a questão de saber o que andou a fazer durante as negociações. Foi apanhado de surpresa? Então quem negociou e redigiu as 500 páginas do documento?

Na imagem, a carta de demissão de Dominic Raab. Clique.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

MAPUTO


Foi inaugurada anteontem a ponte que liga Maputo à Katembe, a maior ponte suspensa de África, construída pela China Road and Bridge Corporation. Foi também inaugurada uma estrada circular com 187 quilómetros. Custo da obra: 800 milhões de dólares. Situada na periferia Sul da cidade, próximo da Matola, facilitará o acesso à praia da Ponta do Ouro e à fronteira sul-africana de KwaZulu-Natal.

No meu tempo, ia-se de Lourenço Marques para a Katembe (então grafada como Catembe) de gasolina ou ferry boat. A praia não valia nada, mas, além de residências de férias de talvez vinte famílias, havia restaurantes de marisco e uma escola de remo e vela. E muita, muita movida gay aos sábados à noite.

domingo, 11 de novembro de 2018

BRUNO & MUSTAFÁ PRESOS

Esqueçam as celebrações do Armistício, as inundações na região de Lisboa, o avião cazaquistanês que esteve para amarar no Tejo mas conseguiu aterrar em Beja, a carta que Costa escreveu a Alegre, a Convenção bloquista, os incêndios na Califórnia onde não pára de morrer gente, a recontagem de votos na Flórida, o affaire Silvano, e outros temas da actualidade.

Bruno de Carvalho e Mustafá foram presos (17:45), acusados de terrorismo.

Portanto, vamos ter meses de telejornais com a duração de duas horas, debates intermináveis em todos os canais, quiçá reuniões do Conselho de Estado e uma comissão parlamentar de inquérito.

TOURADAS


Excertos da carta do primeiro-ministro António Costa a Manuel Alegre, hoje publicada no Público:

«[...] Prefiro pensar que as civilizações também se distinguem pela forma como tratam os animais. Como se distinguem pela forma como valorizam a dignidade do ser humano, a natureza, ou se relacionam com o transcendente, por exemplo. [...]

Por isso, afirmar que uma certa opção é uma questão de civilização não significa desqualificar o oponente como incivilizado. O diálogo de civilizações exige respeito mútuo, tolerância e a defesa da liberdade. [...]

Por isso, não me receie como “mata-toureiros”, qual versão contemporânea de “mata-frades”. Prefiro conceder a cada município a liberdade de permitir ou não a realização de touradas no seu território à sua pura e simples proibição legal e considero extemporâneo um referendo sobre a matéria. Choca-me que o serviço público de televisão transmita touradas. Mas não me ocorre proibir a sua transmissão. Contudo, reclamo também a minha própria liberdade e defendo a liberdade de quem milita contra a permissão das touradas. [...]

A causa da promoção do bem-estar animal é absolutamente legítima e tem tido, felizmente, progressiva expressão legal, a mais relevante das quais a recente alteração do Código Civil, que deixou de considerar os animais como “coisas”. Ou a limitação à utilização de animais em espectáculos de circo. Como homem da Liberdade tem também de respeitar os cidadãos que, como eu, rejeitam a tourada como manifestação pública de uma cultura de violência ou de desfrute do sofrimento animal. [...]

Bem sei que o novo politicamente correcto é ser politicamente “incorrecto”... Mas então prefiro manter a tradição e defender o que acho certo, no respeito pela liberdade dos outros defenderem e praticarem o contrário. [...]»

Elementar. Eu não diria melhor.

A PRIMEIRA GRANDE GUERRA


Ouve-se dizer com frequência que a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial foi um acto simbólico, uma birra de Afonso Costa. Convém lembrar que Portugal mandou 50 mil homens para França e 30 mil para Angola e Moçambique, colónias que faziam fronteira com a Namíbia e a Tanzânia, à época colónias alemãs. Submarinos alemães atacaram a Madeira, os Açores e Cabo Verde. A opinião pública retém o desastre de La Lys, em Abril de 1918, batalha onde morreram 400 portugueses e 7 mil foram feitos prisioneiros. Mas, para o Corpo Expedicionário Português, a Primeira Guerra Mundial não se resumiu a La Lys. Passaram cem anos. As gerações mais jovens olham para tudo isto (as que olham) como eu olho para Assurbanípal. Pode ser-lhes fatal.

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