Hoje na Sábado escrevo sobre Um Bárbaro no Jardim, de Zbigniew Herbert (1924-1998), poeta, ensaísta e dramaturgo polaco dos mais notáveis do século XX. Infelizmente não é um nome familiar a leitores portugueses. Uma breve antologia poética, organizada e traduzida pelo poeta Jorge de Sousa Braga, é tudo quanto havia em Portugal. Mas foi agora traduzida, por Teresa Fernandes Swiatkiewicz, a primeira colectânea de ensaios que Herbert publicou, Um Bárbaro no Jardim. Trata-se de um livro que o autor pretende seja lido como «um relatório das [suas] viagens.» Em vez do tradicional diário, Herbert centrou-se na Idade Média e optou por “coser” breves ensaios sobre arte e civilizações distantes, incluindo estudos de fundo sobre os Albigenses (também chamados de Cátaros) e os Templários. Considerados hereges, os Albigenses eram oriundos da região francesa do Languedoque, tendo sido perseguidos e massacrados por tropas apoiadas pelo Papa Inocêncio III. No século XII, o conflito durou 45 anos. Apesar de tudo, os Templários são mais conhecidos, surgindo, aqui e ali, na cultura popular (a procura do Graal é tema de inúmeros livros e filmes), como acontece na obra de Dan Brown. Foi através da Ordem de Cristo que os Templários se estabeleceram em Portugal, em 1319, depois da tentativa de aniquilamento ordenada em 1314 pelo Papa Clemente V. Herbert faz a defesa dos Templários em vinte páginas absorventes. O renascentista italiano Piero della Francesca é outro foco da atenção do autor. O mesmo se diga de Il Duomo, de Orvieto (a catedral dedicada à Virgem Maria). Como vai dito no início, Um Bárbaro no Jardim trata de viagens por interpostos artistas, grupos religiosos ou as pinturas rupestres de Lascaux. Nada a ver com os livros de viagens de Bruce Chatwin ou Jan Morris. Nos anos 1960 (a edição original deste livro é de 1962), um cidadão dos países satélites de Moscovo não viajava com facilidade pelo Ocidente. Herbert não teve outra alternativa senão dissertar sobre temas de cultura geral, como, entre outros, a derrota do exército florentino frente a Siena. Não é de admirar que os templos religiosos estejam no centro da narrativa, seja no Périgord, na Umbria ou em Arles. Quatro estrelas. Publicou a Cavalo de Ferro.
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