Já toda a gente percebeu que os fogos de Junho e Outubro do ano passado têm sido utilizados como arma de arremesso político. A Comissão Técnica Independente incumbida pela Assembleia da República de analisar os incêndios de 2017, produziu dois relatórios. O primeiro, sobre Pedrógão Grande, não suscitou controvérsia: o Governo adoptou as medidas propostas. O segundo, sobre a catástrofe de 15 de Outubro, foi divulgado anteontem. Contém informação alegadamente falsa veiculada por Albino Tavares, tenente-coronel, antigo membro da Autoridade Nacional de Protecção Civil.
Face à reacção imediata do deputado Jorge Gomes, secretário de Estado da Administração Interna que saiu do Governo em Outubro, o presidente da Comissão Técnica Independente, João Guerreiro, afirmou ontem:
«No meio de um trabalho de doze pessoas, [a CTI é formada por doze peritos] poderá haver qualquer coisa que não esteja totalmente clara. Percebo as questões colocadas pelo dr. Jorge Gomes, portanto tem todo o sentido que estas questões sejam cabalmente esclarecidas, tem todo o sentido que a Comissão Técnica Independente, neste domínio, analise um bocadinho, com maior profundidade, esta troca de documentos. Tudo o que sejam questões que possam não estar bem esclarecidas no relatório, acho que temos o dever de clarificar isso rapidamente para não complicar a discussão sobre os reais problemas que estão presentes, porque esses é que interessam.»
Analise um bocadinho, com maior profundidade...? Um bocadinho?
O que é extraordinário é que só agora, depois de elaborado o segundo relatório, a CTI tenha ‘descoberto’ que não analisou em profundidade, nem fez o contraditório.