Sim, fui ver. Não, não é uma obra-prima. Mas devia ser visto por todos os papás e mamãs com filhos menores. E talvez exibido em escolas do ensino secundário. Adaptado do romance homónimo de André Aciman, o escritor judeu sefardita, nascido em Alexandria, que ensina teoria literária em Nova Iorque, o filme sinaliza todas as idiossincrasias do autor: tradição hebraica, cultura árabe e homossexualidade. O romance é de 2007, o filme é de 2017. James Ivory escreveu o argumento e co-produziu. A realização é de Luca Guadagnino, que passou a infância na Etiópia e é filho de mãe argelina. Sublinho intencionalmente o melting pot.
Timothée Chalamet, 22 anos, e Armie Hammer, 31, são os protagonistas desta história de amor vivida em 1983, em Crema, na Lombardia. Plot: arqueólogo italiano de origem judaica contrata assistente judeu-americano para o ajudar nos meses de férias, filho do arqueólogo (dezassete anos) apaixona-se pelo assistente do papá (vinte e muitos anos), o qual retribui com o dobro da convicção, os pais do adolescente percebem e apoiam, as férias acabam, os dois passam uma semana sozinhos nas montanhas, o americano regressa a casa e, na tarde do Hanukkah, telefona a dizer que vai casar por imperativo social. Seguir com atenção a conversa do pai com o filho depois da separação. As cenas entre os dois rapazes são persuasivas e estão filmadas com elegância, mesmo a do pêssego besuntado com esperma. Não esquecer que tudo isto se passa na Itália de 1983, entre gente culta, com desafogo económico e respeito pelas tradições hebraicas. Ecos de Visconti e vagas reminiscências de Il giardino dei Finzi-Contini (Vittorio de Sica, 1970) vêm-me à memória. Por último, a música de Sufjan Stevens não me parece nada adequada ao ambiente encantatório do filme, mas se calhar sou eu que sou cota.