Hoje na Sábado escrevo sobre Obra Perfeitamente Incompleta, de José Sesinando (1923-1995), aliás José Palla e Carmo, autor de culto largamente desconhecido dos mais jovens. Coube a Abel Barros Baptista e Luísa Costa Gomes estruturar o acervo indisciplinado desta obra de difícil acesso, disperso por publicações avulsas, bem como por edições artesanais, privadas. Integrado na colecção de Ricardo Araújo Pereira, ao lado de títulos de Hasek, Diderot, Gontcharov e outros, Obra Perfeitamente Incompleta colige três livros de Sesinando: Obra Ântuma (1986), prosa humorística e poesia, e mais dois que nunca chegaram às livrarias — Olha, Daisy (1985) e Heteropsicografia (1985), variações sobre poemas de Fernando Pessoa, «dois livros extraordinários, sem comparação na posteridade pessoana», sublinha Baptista. Ensaísta, crítico e tradutor, Sesinando é um caso singular. A mordacidade assenta numa profunda cultura literária. Por exemplo: «O poeta é um rabujador / Que pega o touro pelos cornos» vale como retrato a traço grosso de Ary dos Santos. Quatro estrelas. Publicou a Tinta da China.