Tendo visitado o Porto umas seis dúzias de vezes, nunca ali tinha permanecido cinco dias seguidos. Gostei francamente da experiência. O Porto que me era familiar circunscreve-se ao eixo Campo Alegre/Foz, porque é lá que moram os amigos e, por essa razão, a deslocação para o downtown revelou outra cidade. Verdade que o downtown de 2018 não é o de 1988. Obras de reordenamento urbano, limpeza, recuperação de edifícios, comércio de qualidade, oferta de hotéis, cafés restaurados com bom gosto, esplanadas, tudo contribui para fazer do Porto actual uma cidade convidativa.
Fiquei fã da zona de Sá da Bandeira. E descobri a Rua das Flores, onde fica a Ourivesaria Alliança, durante décadas a maior da Península Ibérica. Os lisboetas conhecem a Alliança da Rua Garrett, mas a casa-mãe, fundada em 1925, embora já não disponha dos cinco andares originais, tem uma elegante casa de chá no piso térreo. Quem for avesso a baixelas e cristais pode ir ao Mercador Café fazer uma refeição ligeira ou beber um copo em ambiente simpático e civilizado. Os bibliófilos encontram dois alfarrabistas, sendo um deles o famoso Chaminé da Mota. A Igreja da Misericórdia merece uma visita, bem como o MMIPO (museu da Misericórdia) e a Chocolataria das Flores. Uma dúzia de barzinhos frequentados por malta nova, trendy, e franceses estruturalistas, dão um toque de cosmopolitismo soixante-huitard. No topo Sul fica o Largo de São Domingos, com esplanadas e a cara lavada. Dois restaurantes merecem atenção: o Traça e o LSD, especialmente o primeiro, que entrou para a minha lista portuense.
É evidente que o centro histórico do Porto não se resume à Rua das Flores, mas foi a zona mais agradável que visitei. Quanto à Rua de Santa Catarina, outrora aprazível, está transformada numa espécie de Chinatown, não tanto pelas lojas, pois há de tudo, mas pelo tipo de esquizofrenia universal. Numa altura em que a cidade se renova, é incompreensível o estado de decadência do magnífico edifício do antigo Cinema Batalha. A reabilitação prevista para 2019 avança? Oxalá. Do outro lado da praça, o Teatro de São João está um brinco.
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