Viver em democracia tem custos. Quem viu ou vê a série britânica The Crown, de Peter Morgan, que passa na Netflix, surpreende-se com a forma como temas ‘melindrosos’ são tratados. A relação de Isabel II com o marido não omite a faceta de mulherengo do Duque de Edimburgo. O próprio passado de Filipe é dissecado sem filtros: as simpatias nazis da família são expostas de forma bruta. Por falar em nazismo, o Duque de Windsor (o rei Eduardo VIII, que abdicou em 1936) não sai nada bem no retrato. O assunto não constitui novidade, mas nunca tinha sido tratado sem ambiguidades. O Duque queria mesmo regressar ao trono pela mão de Hitler. A crise do canal do Suez e a demissão de Eden mostram bem a hipocrisia brit. O mesmo se diga do escândalo Profumo, que não poupa o Duque de Edimburgo, habitué das festas de Stephen Ward, o osteopata que fornecia meninas à alta sociedade. Muito interessante o modo como o casamento da princesa Margarida com Tony Amstrong-Jones é ilustrado: a série põe o futuro Lord Snowdon na cama com outros cavalheiros, o que também não é uma revelação, mas uma coisa são rumores, outra bem diferente pôr os factos na televisão. Junte a tudo isto álcool e drogas. Ainda só vamos na segunda temporada, que termina em 1964, com o nascimento do príncipe Eduardo, o quarto filho da rainha, portanto imagina-se o que virá a seguir, com a entrada em cena de Diana. Não esquecer que a rainha e o marido estão vivos. Em Portugal, nem com gente morta há 500 anos seria possível.