quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ


Hoje na Sábado escrevo sobre Em Viagem pela Europa de Leste, de Gabriel García Márquez (1927-2014), volume que compila onze crónicas publicadas em 1957 na revista Cromos, de Bogotá, as quais deram origem, em 1978, ao livro ora traduzido. Se alguém tivesse encomendado a um anticomunista um panfleto anti-URSS, o teor de corrosão ficaria àquem. No Verão de 1957, acompanhado de uma francesa e um italiano, García Márquez partiu de Frankfurt para uma viagem pela “Cortina de Ferro”. O périplo começa em Berlim, onde ainda não havia Muro, e era possível residir no sector russo e trabalhar no sector americano. Premonitório, escreve: «dentro de cinquenta, cem anos, quando um dos sistemas tiver prevalecido sobre o outro, as duas Berlins serão uma única cidade.» Seguem-se Praga, Varsóvia, Moscovo e Budapeste, a capital húngara que no ano anterior tinha sido ocupada pelos tanques soviéticos. García Márquez não arranja desculpas para a pobreza, nem ignora a cólera das populações: «No campo de concentração comia mal, mas era mais feliz do que aqui», diz o empregado de um bar em Berlim Leste. Fantasmagórico é o adjectivo mais benigno que me ocorre. Quatro estrelas. Publicou a Dom Quixote.