quinta-feira, 24 de novembro de 2016

EUCANAÃ FERRAZ


Hoje na Sábado escrevo sobre Poesia, do brasileiro Eucanaã Ferraz (n. 1961). Não é a primeira vez que o autor escolhe Portugal para publicar obras inéditas no Brasil. Foi assim com Desassombro, sucede de novo com Poesia, grosso volume de mais de seiscentas páginas que colige a poesia publicada entre 1990 e 2016, editado com a seriação invertida (começa pelo mais recente, fecha com o de estreia). Carlos Mendes de Sousa assina o extenso prefácio: «Este livro é o livro que esperávamos.» Com efeito, raras vezes o grão voz devém com tanta nitidez. O poeta celebra a vida em versos de exemplar tessitura: «Você não entendeu nada, como eu poderia / pôr um porre ou um raio de sol ou um Tylenol / sobre a tristeza, se ela é a verdade que fala? // Você não sabe amar, meu bem, não sabe / o que é o amor, como na canção. Que foi / que lhe ensinaram na escola?» Mas o arroubo amoroso não o distrai do mundo, e a tensão retórica (e prosódica) tem momentos deveras conseguidos: «De repente a cúpula de Santa Maria in Trastevere hasteou a tarde / bizantina no ouro das linhas retas». Leitura obrigatória. Cinco estrelas. Publicou a Imprensa Nacional.