Hoje na Sábado escrevo sobre Vai e Põe Uma Sentinela, de Harper Lee (n. 1926), durante quase sessenta anos tida como autora de um único livro, Não Matem a Cotovia, vencedor do Prémio Pulitzer de Ficção e, em 1999, eleito o melhor romance do século XX. Até que no ano passado apareceu o manuscrito, julgado perdido, de um livro mais antigo nunca publicado. Tendo sido o primeiro a ser escrito, Vai e Põe Uma Sentinela destinava-se a fechar uma trilogia por concluir. Nunca saberemos o que fez Lee ficar parada depois da consagração e do sucesso planetário de Não Matem a Cotovia, que Robert Mulligan levou ao cinema em 1962. Para sermos justos, Vai e Põe Uma Sentinela pouco acrescenta ao prestígio da autora. Aparentemente, a sua publicação terá sido uma “exigência” do agente literário. Jean Louise é agora uma mulher adulta, consciente das contradições da sociedade americana nos anos 1950. De visita a Maycomb (a cidade ficcionada que corresponde a Monroeville, no Alabama), vinda de Nova Iorque, vai confrontar-se com a realidade: a idade matiza os ideais, os ídolos da infância são vistos sem o filtro da inocência. É o caso do pai, o insubornável Atticus Finch. Lá onde a cor da pele determinava tudo, e estava mal, agora há quem continue a alimentar fantasmas. Quatro estrelas.