Tinha 17 anos quando pela primeira vez li A Bastarda, de Violette Leduc (1907-1972). É daqueles livros — o exemplo extremo será Guerra e Paz, de Tolstoi — que temos de voltar a ler depois dos 40. Romance autobiográfico avesso a todas as categorias morais, A Bastarda «mostra com excepcional clareza que uma vida é a conquista de um destino por uma liberdade assumida.» São palavras de Simone de Beauvoir no prefácio da obra. Leduc conquistou esse destino. Oriunda das classes trabalhadoras, filha ilegítima, lésbica assumida, estranha ao beau monde, torna-se amiga de Maurice Sachs, por intermédio de quem conhece Beauvoir, Sartre, Camus, Cocteau, Genet, Sarraute, Jouhandeau e outros. Constrói uma obra parcimoniosa: entre 1946 e 1971 publica dez livros, sendo A Bastarda o mais importante. A tradução da romancista Natália Nunes que vemos na imagem foi publicada em 1966 (a capa só podia ser de João da Câmara Leme). Sejamos claros: esta obra-prima tem de voltar às livrarias.