sábado, 19 de maio de 2018

O CASAMENTO


É um conto de fadas encenado ao milímetro? Com certeza. Mas, no meio da insânia universal, faz bem testemunhar a felicidade estampada nos rostos de Harry e Meghan. Segui o casamento pela BBC. Mas, depois do almoço, fiz zapping retrospectivo pelos canais portugueses. Uma vergonha. A TVI mandou Judite e Goucha, e os dois, perdidos num jardim de Windsor, multiplicaram-se em frioleiras, sem conseguirem dar uma única informação relevante. Desde quando tiara passou a ser bandolete? A  RTP comentou em off: a voz masculina não foi capaz de identificar Oprah, mas os ‘traços raciais’ não eram de todo estranhos. Já não tive paciência para a SIC. Por que é que se gasta dinheiro com estes directos que não servem para nada?

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quinta-feira, 17 de maio de 2018

WOOLF & GOMES


Hoje na Sábado escrevo sobre Diários de Virginia Woolf (1882-1941). O leitor fará decerto a mesma pergunta: porquê o plural? Porquê Diários...? A exemplo de outros autores, Virginia Woolf podia ter escrito e publicado vários, mas não o fez. Como procede do título original — The Diary of Virginia Woolf —, trata-se de obra única, parcialmente divulgada por Leonard Woolf, em 1953 (ou seja, doze anos depois da morte da mulher), com o título A Writer’s Diary. Para o ler na íntegra, seria preciso esperar por 1984, ano em que Anne Olivier Bell e Andrew McNeillie deram à estampa o quinto volume do diário completo. Em 1985 e 1987, foi a partir dessa edição que Maria José Jorge publicou em dois volumes uma selecção do diário de Virginia Woolf. E é novamente a partir dela que Jorge Vaz de Carvalho publica, em volume único, a presente tradução. Jorge Vaz de Carvalho começa um dia mais cedo. Mas logo no dia seguinte, 2 de Janeiro de 1915, salta quatro linhas: os comentários de Mrs. Le Grys, o conde lambareiro, etc. Fazem aqui falta parêntesis rectos, porque a maioria dos leitores não sabe que, entre «comida frita em manteiga» e «Depois disto» (p. 17), existem frases omissas.  O processo repete-se ao longo do livro. Não vem daí mal ao mundo, o responsável pela edição tem liberdade de escolha, mas, na mesma entrada, as interrupções de discurso têm de estar sinalizadas. Isto dito, é fascinante ler o diário de alguém que esteve na origem do mundo moderno tal como o conhecemos. Com efeito, Virginia Woolf, os irmãos e os amigos, mais os amantes de todos eles, deram, a partir de Bloomsbury, uma guinada nos costumes vitorianos. Como disse um dia Petra Kipphoff, tudo era permitido, excepto a estupidez, a falta de estilo e de graciosidade. Por estas páginas passa gente tão decisiva como T. S. Eliot, John Maynard Keynes, Bertrand Russell, E. M. Forster, Katherine Mansfield, Aldous Huxley e dezenas de outros (cito apenas um punhado de nomes incontornáveis), embora alguns dos episódios mais interessantes sejam de terceiros. Lamenta-se a ausência de índice onomástico. Quatro estrelas. Publicou a Relógio d’Água.

Escrevo ainda sobre Florinhas de Soror Nada, o romance mais recente de Luísa Costa Gomes (n. 1954). Uma autora com os seus recursos narrativos, salta com facilidade entre géneros literários. Não admira que no conto, como no romance e no teatro, a fasquia tenha estado sempre lá em cima. Este mantém a bitola. Num autor menos apetrechado, a história de Teresa Maria, a criança que queria ser santa à maneira da outra, a de Ávila, até ao dia em que faz apostasia, tenderia a roçar o kitsch. Mas a autora controla o discurso com sageza: «Mencionando a natureza demoníaca da mulher […] chegou o padre depois de muitos rodeios à questão vexante.» Sexo, naturalmente. Teresa Maria é o ponto de partida da efabulação. Como quem não quer a coisa, o romance ilustra o regime de beatério em que sucessivas gerações de portugueses foram educados. Que isso seja feito com desenvoltura, ironia («A Madre Superiora ainda não morrera e já trazia a múmia de Santa Catarina em projecto na face») e distância crítica, é factor de mérito acrescido. Isso, e os episódios pícaros que pontuaram as vidas da Legenda Áurea. Quatro estrelas. Publicou a Dom Quixote.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

UM AMERICANO EM PARIS


Fui hoje ver, em cinema, a versão para teatro que Christopher Wheeldon fez de Um Americano em Paris. O espectáculo transmitido foi o que esteve em cena no Dominion Theatre, de Londres. Duas horas e meia de arrebatamento. Magia pura. Robert Fairchild (como Jerry Mulligan), do New York City Ballet, e Leanne Cope (como Lise Dassin), do British Royal Ballet, encabeçam um elenco de cantores e bailarinos excepcionais. Por incrível que pareça, Fairchild faz esquecer Gene Kelly. E nunca a música de Gershwin me pareceu tão esplendorosa. É óbvio que espectáculos com este nível de perfeição nos impedem de transigir com a mediocridade aperaltada.

Na imagem, Robert Fairchild e Leanne Cope. Clique

terça-feira, 15 de maio de 2018

TOM WOLFE 1930-2018


Morreu ontem Tom Wolfe, o escritor e jornalista americano que nos anos 1960 inventou o conceito de New Journalism. Autor de quatro romances, vinte colectâneas de ensaios e dezenas de artigos publicados nos últimos 60 anos, Wolfe foi, depois de Gore Vidal, o crítico mais mordaz da realidade americana. Radical Chic, um termo que é hoje património da língua inglesa, foi um dos muitos que grafou. A Fogueira das Vaidades (1987), um dos seus livros traduzidos em Portugal, foi levado ao cinema em 1990 por Brian De Palma. Wolfe tinha 88 anos e estava internado num hospital de Manhattan. A notícia da sua morte só hoje foi divulgada.

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segunda-feira, 14 de maio de 2018

NETTA & SOBRAL


Vi algumas passagens das semi-finais do festival da Eurovisão e o que vi era agitprop LGBT+ sem disfarce. Nada contra, pelo contrário.

Hoje, o embaixador de Israel em Lisboa confirmou o meu juízo: «Será uma grande celebração, uma grande festa para a comunidade LGBT e será uma outra oportunidade para a comunidade LGBT receber e celebrar com gays de toda a Europa, e nós damos as boas-vindas a todos na Gay Parade, do próximo mês e na Eurovisão do próximo ano

Terá sido isso que incomodou o rapaz Sobral? O vencedor do ano passado considerou a canção vencedora uma merda, e está no seu direito de achar isso mais um par de botas, mas não havia necessidade.

Na imagem, a vencedora Netta Barzilai. Clique.

TORRA, O XENÓFOBO


O grupo socialista do Parlamento Europeu lamenta que um xenófobo como Quim Torra tenha sido eleito Presidente da Generalitat: «Os seus comentários racistas são absolutamente repugnantes e lançam dúvidas sobre a sua aptidão para assumir o cargo

Deputado eleito nas listas de Junts per Catalunya, Quim Torra, 55 anos, foi hoje eleito President por 66 votos contra 65. Católico ultramontano, supremacista, direitista, assume o cargo ‘em nome de Puigdemont’. No mais inocente dos seus tuítes, a criatura escreve: «Os espanhóis não são pessoas

A eleição ocorreu cinco meses após as eleições catalãs.

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