sábado, 16 de janeiro de 2016

CHIÇA!

A Direita começou a fazer com Tiago Brandão Rodrigues o mesmo que fez com Maria de Lurdes Rodrigues. Um articulista pateta conta pouco, mas vinte articulistas com o dente ferrado nas canelas do ministro fazem mossa. Enquanto a discussão for, ou fingir ser, sobre políticas de Educação, a coisa passa. Mas que Vasco Pulido Valente, colunista e historiador (não confundir com licenciado em História) respeitado, o faça em termos de pedigree — o actual ministro seria «um primitivo», apesar da relva de Cambridge —, à boleia de Bourdieu, raia o absurdo.

Quarenta anos de democracia não foram suficientes para acabar com o mandarinato.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

MONTESQUIEU


Hoje na Sábado escrevo sobre Cartas Persas (1721), de Montesquieu, ou seja, Charles-Louis de Secondat (1689-1755), barão de La Brède e de Montesquieu, filósofo, fundador da sociologia moderna, o aristocrata defensor das liberdades e da tolerância que abalou as certezas do século XVIII ao publicar De l’Esprit des Lois (1748). A presente tradução segue a edição canónica de 1754, ocasião em que foram acrescentadas onze cartas ao corpus original. Cartas Persas é um romance epistolar, género que atingiria o cume com As Ligações Perigosas (1782), de Laclos. Montesquieu não vai tão longe como o futuro marechal, e faz todo o sentido que assim seja, porquanto o livre-pensador e o militar napoleónico são homens de índole diferente. Em todo o caso, Montesquieu faz um retrato cru, muitas vezes cínico, da época em que viveu, dando ênfase ao despotismo e ao carácter intrusivo da monarquia francesa, de par com a crítica ao dogmatismo da Igreja. Em suma, o autor usa o artifício da ficção (a correspondência de Usbek e Rica) para invectivar os fundamentos da sociedade. De certo modo, as “observações” dos dois persas antecipam o tratado sobre o espírito das leis. A controvérsia era inevitável: «A maior parte dos governos da Europa são monárquicos, ou assim chamados. Na verdade, ignoro se já houve alguns verdadeiramente assim; pelo menos, não subsistiram muito tempo na sua pureza. É um estado violento… etc.» A denúncia do abuso dos privilégios («a vantagem está habitualmente do lado do príncipe») fez a fama do autor que pôs na boca de um estrangeiro a frase assassina («o poder dos reis da Europa é muito grande»), pretexto para teorizar sobre crimes de lesa-majestade e o arbítrio da pena de morte. Isto tudo com a heterodoxia adicional de o fazer por comparação com o modus operandi dos sultões persas. No prefácio, Nuno Júdice expõe com clareza as linhas de força do romance, em especial o «fundo libertino» associado às histórias do serralho de Solim. Cinco estrelas.

Escrevo ainda sobre Desmobilizados, a estreia de Phil Klay (n. 1983) que suscitou aplausos gerais. Os prémios vieram logo a seguir: o National Book na categoria de ficção, o John Leonard para a melhor primeira obra em qualquer género, etc. O coro laudatório tem razão de ser. O livro junta doze contos sobre a experiência do autor, veterano do Iraque. Klay não é um marine comum. Formou-se em Dartmouth (uma universidade da Ivy League) e, antes de publicar o livro, tinha escrito ensaios para o Wall Street Journal, o New York Times e outras publicações do mesmo calibre. O conto que abre o volume foi originalmente publicado na edição americana da revista Granta. Klay faz o retrato em grande angular da ocupação do Iraque. Direitos humanos? Códigos de conduta? Tretas. Depois de degolar um prisioneiro, um capitão diz: «Sabe bem matar um gajo com uma faca.» Narrados na primeira pessoa, os textos estão impregnados de sexo, violência e stress pós-traumático. Uma catarse sobre o sem sentido da guerra, num continuum narrativo admirável. Para um americano não deve ser fácil ler este livro. Creio que é o maior elogio que se lhe pode fazer. Quatro estrelas e meia. Publicou a Elsinore.

RADICAL, DIZEM ELES


Por regra, um ministro oriundo de fora dos partidos não tem a desenvoltura tribunícia dos deputados mais experientes. Foi por isso uma agradável surpresa ouvir Tiago Brandão Rodrigues, o ministro da Educação, durante a audição a que ontem foi sujeito em sede de Comissão Parlamentar. Brandão Rodrigues deixou claro quem é que manda e, em resposta a um deputado da Oposição que lhe chamou radical por ter alterado de alto a baixo o modelo Crato, respondeu: É verdade. Sou radicalmente a favor da aprendizagem dos alunos. Os comentadores que tão apressadamente peroraram sobre a presuntiva falta de experiência política de um especialista em oncologia da Universidade de Cambridge, vão ter de rever a cábula das avenças.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A IMPRENSA A QUE TEMOS DIREITO

Como é que um jornal com pergaminhos — estou a falar do Diário de Notícias —, um jornal centenário, se permite dizer, em reportagem assinada por Rui Pedro Antunes, que «as eleições já estão decididas»?

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O QUE ELES GANHAM

Maria Lopes, do Público, foi ao Tribunal Constitucional verificar as declarações de rendimentos, património e cargos sociais dos dez candidatos a PR. A Lei impõe essa declaração. Há números curiosos.

Por exemplo, em matéria de rendimentos auferidos em 2014, ficamos a saber que Marcelo recebeu cerca de 385 mil euros brutos por trabalho dependente e independente; Sampaio da Nóvoa cerca de 130 mil; Marisa Matias cerca de 98 mil; Cândido Ferreira cerca de 95 mil; Maria de Belém cerca de 61 mil; Paulo Morais cerca de 58 mil; Edgar Silva 46 mil; Jorge Sequeira 36 mil; e Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, cerca de 18 mil. Henrique Neto tem um património de 1,3 milhões de euros, mas a notícia é omissa quanto ao valor dos seus rendimentos de trabalho ou pensão. Sobre património, Cândido Ferreira tem o seu avaliado em 5,6 milhões de euros. Marcelo não tem casa nem carro, embora tenha poupanças no valor de 384 mil euros. A notícia indica outros itens.