domingo, 18 de abril de 2021

FIAMA


UM POEMA POR SEMANA — Para hoje escolhi O Miradouro, de Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007), personalidade hierática da vida literária portuguesa, de quem se diz ter sido hermética entre os herméticos. Discordo.

Natural de Lisboa, Fiama viveu numa quinta de Carcavelos até aos 18 anos, tendo feito os primeiros estudos na St Julian’s School. Na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa conheceu Gastão Cruz, com quem foi casada. Juntos, editaram a Antologia de Poesia Universitária (1964) e deram consistência teórica ao movimento Poesia 61. A obra canónica abre com Morfismos (1961), justamente porque Fiama rasurou os dois livros anteriores, um dos quais premiado.

Além de poesia, Fiama escreveu teatro, ensaio, récits e o romance Sob o Olhar de Medeia (1998). Na área do ensaio ocupou-se sobretudo de teatro, Camões, Gil Vicente e a influência da Cabala na poesia portuguesa dos séculos XVI a XVIII. Como tradutora, verteu para português obras de Artaud, Brecht, Novalis, Tchekov e outros. Entre todas, destacaria a versão que fez do Cântico Maior Atribuído a Salomão (1985), integrada na sua obra poética.

O teatro foi sempre uma paixão. Talvez por isso, a seu respeito, se fale do teatro da voz. Fiama estagiou no Teatro Experimental do Porto, fez crítica, fundou com Gastão o Teatro Hoje (Lisboa), frequentou na Gulbenkian um seminário de Gutkin, encenou Mariana Pineda de Lorca e, por último mas não em último, escreveu sete peças, algumas das quais representadas.

Investigadora de linguística, disse um dia que O Romance da Raposa de Aquilino Ribeiro fora o primeiro livro infantil que lera. Em 1992 deixou Lisboa, voltando à quinta de Carcavelos. Em Portugal recebeu todos os prémios que havia para receber, excepto o Camões. Morreu aos 68 anos.

O poema desta semana pertence a (Este) Rosto, de 1970, mais precisamente à sequência que nesse livro se chama ‘A Vez das Vilas’. A imagem foi obtida a partir de Obra Breve, volume da poesia reunida, publicado em 2006 pela Assírio & Alvim.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny, Natália Correia, Jorge de Sena, Glória de Sant’Anna, Mário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Helder, Florbela Espanca e António Gedeão.]

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