segunda-feira, 4 de março de 2019

FOLHETIM PEDRÓGÃO GRANDE

Numa entrevista hoje publicada no Diário de Notícias, Valdemar Alves, presidente da Câmara de Pedrógão Grande, diz estar convencido de ter feito «tudo bem dentro da lei». Não é uma certeza, é um convencimento. Diz mais: «Tenho a consciência tranquila, não fiquei com um cêntimo de ninguém.» Não terá ficado, mas não é isso que está em causa. Também não percebe a razão pela qual foi constituído arguido.

Sucessivas reportagens de Ana Leal, na TVI, têm ilustrado o desnorte do autarca e o modus operandi da sua camarilha. Mas não só. A Cruz Vermelha Portuguesa não sai ilesa do retrato.

Afinal, quem responde pela incúria? Por que razão continuam por distribuir os 360 mil euros de donativos (em dinheiro depositado no BPI) de particulares?

Por que razão continuam armazenados e a degradar-se os bens que deviam ter sido distribuídos há 20 meses?

As reportagens da TVI são eloquentes. Foram reconstruídas cerca de 150 casas, mas nem todas eram de primeira habitação, como a lei prescreve, tendo algumas sido construídas em lugares onde, antes dos incêndios, repito, ANTES dos incêndios, só existiam ruínas.

No passado 28 de Fevereiro, Ana Leal entrevistou Francisco George, antigo director-geral da Saúde e actual presidente da Cruz Vermelha Portuguesa. Balbúrdia total, com o entrevistado a pôr um fim violento aos ‘esclarecimentos’. Ficámos sem saber quem tinha mandado demolir, e porquê, uma habitação em fase de reconstrução. Lembrar que estão por reconstruir cerca de 30 primeiras habitações.

Face a toda esta trapalhada, causa perplexidade o facto de Valdemar Alves continuar à frente da autarquia. Também é muito estranho que nenhum media ‘de referência’ tenha entrevistado Francisco George. Um alto funcionário (como é o presidente da Cruz Vermelha Portuguesa) não pode, como fez George, arrogar-se o direito de falar off the record. Pode recusar entrevistas, claro que sim. Mas, uma vez concedida, o mais que pode é ficar pelo ‘não comento’.

Fui só eu que fiquei admirado com o silêncio dos media à peixeirada de 28 de Fevereiro? Será que o DN, agora que entrevistou Valdemar Alves, tenciona ouvir o que Francisco George não disse na televisão?