sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

PURGA NO BRASIL

O primeiro acto de Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil, o equivalente a ministro da Presidência, foi exonerar 320 funcionários alegadamente militantes ou simpatizantes do PT. As exonerações foram publicadas ontem no Diário Oficial.

Onyx deu o tiro de partida para a «despetização» da Administração Pública, tornando-a «livre de amarras ideológicas». Igual medida vai ser aplicada em todos os ministérios, tribunais, escolas, universidades, institutos e órgãos oficiais brasileiros, prevendo-se a exoneração de dezenas de milhares de funcionários.

Quem considerava os excessos retóricos de Bolsonaro mera estratégia de campanha, pode agora confrontar-se com a realidade.

O CONGRESSO DA DIVERSIDADE


Ontem foi o Dia Um dos novos eleitos para o Congresso (Senado e Câmara dos Representantes) dos Estados Unidos. Dez novos senadores, sendo 3 mulheres Democratas; e 101 novos congressistas, sendo 64 Democratas. No seu conjunto, o Congresso tem agora mais de cem mulheres: 38 são Republicanas.

Nunca o Congresso americano teve tanta diversidade: homossexuais e lésbicas assumidas, imigrantes, uma mulher muçulmana, hispânicos, negros, representantes de tribos índias, dois antigos oficiais da CIA, um ex-Boina Verde, mulheres veteranas militares (nunca até agora ex-militares haviam concorrido), antigos assessores de contraterrorismo, etc.

Nancy Pelosi, 78 anos, Democrata, foi eleita Speaker, cargo que já ocupara entre 2007 e 2011. Não vai ser fácil a vida de Trump nesta segunda metade do seu mandato.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

BRANQUEAR O FASCISMO

Mário Machado, líder do movimento de extrema-direita Nova Ordem Social, esteve hoje no programa de Manuel Luís Goucha, na TVI. Mote: Precisamos de um novo Salazar?

Machado acha que sim. Bruno Caetano, alegado repórter sem carteira profissional de jornalista, autor do formato, também acha. Goucha fez notar que não foi responsável pelo convite.

Numa rápida pesquisa sobre Machado, encontro referências a condenações em 1997 (caso Alcindo Monteiro), 2008 e 2010. Goucha passou ao lado.

Se, como diz Goucha, temos de ouvir todas as partes, convém fazer primeiro o trabalho de casa. E confrontar o entrevistado com eventuais contradições. Neste caso foram várias.

MARÍAS & JONES


Hoje na Sábado escrevo sobre Berta Isla, o romance mais recente do espanhol Javier Marías (n. 1951). Trata-se de um thriller de espionagem que recupera Peter Wheeler, um dos personagens da trilogia O Teu Rosto Amanhã. O protagonista, Tom Nevinson, podia ser o alter-ego do autor, pois ambos, em determinado momento das suas vidas, trocaram Espanha por Oxford, pautando o dia a dia por idiossincrasias britânicas. Como em obras anteriores, a acção de Berta Isla — o nome da mulher de Tom — desenrola-se tendo a História europeia como pano de fundo. Desta vez, o leitor acompanha a turbulência de 1968 (o Maio francês, a ocupação de Praga pelos tanques do Pacto de Varsóvia) e o colapso da URSS em 1991, depois de passar pela guerrilha do Ulster, a guerra das Malvinas e a queda do Muro de Berlim. Sem esquecer a ditadura franquista, pretexto para Marías lembrar os ominosos tempos do caudilho, em especial os métodos de actuação das polícias espanholas. Em Oxford, Tom, cujos dotes de linguista e de mimo eram reconhecidos, vê-se compelido a ser espião ao serviço do MI6. Filho de pai inglês e mãe espanhola, reunia as condições «para ser útil ao país e o servir com as suas capacidades excepcionais.» Tom recusa a sugestão de Wheeler, mas um episódio macabro (uma mulher com quem fez sexo aparece estrangulada) coloca-o entre duas escolhas: acusação de assassinato ou tornar-se infiltrado com base em Madrid. A originalidade da intriga radica no facto de cruzar os incidentes da vida conjugal com os segredos da profissão. Por exemplo, Berta não sabe por que razão foi um dia atacada por um casal de activistas do IRA. O que queriam com ela os irlandeses? Embora se trate de um thriller, um dos aspectos mais interessantes e melhor resolvidos relaciona-se com a solidão de Berta (o meu marido é o meu marido?, interrogava-se), que foi mantendo breves casos extra-conjugais, mas durante vinte anos não desistiu de ver Tom de regresso a casa. Oportunas citações de Shakespeare (o contraponto de Thatcher com Henrique V em Agincourt, em 1415, é um achado) e T.S. Eliot, pontuam a narrativa. Cinco estrelas. Publicou a Alfaguara.

Escrevo ainda sobre Aquilo Que Encontrei na Praia, romance do escritor galês Cynan Jones (n. 1975). A vida dos que vivem no limite da sobrevivência é o tema central. Podia ser um thriller policial, na medida em que tudo começa com a descoberta do corpo de um homem com «um buraco na cara, um túnel até à nuca», homem a quem faltavam quase todos os dedos de uma das mãos. O livro foi publicado em 2011, no auge da crise europeia. No centro da intriga, Grzegorz, imigrante polaco, e Hold, um pescador. Tráfico de droga, chantagem, contabilidade paralela, expedientes que põem em risco o visto de Grzegorz, pretextos para Cynan Jones falar dos efeitos da desregulação do mercado, dos monopólios da cadeia alimentar e da globalização. Não é inocente que Grzegorz seja polaco: quando os britânicos se queixam dos estrangeiros que hoje em dia ocupam a generalidade das profissões pouco qualificadas, estão a pensar em polacos. Grzegorz lê o grafito todos os dias: «Polacos fora». Mas o medo é o que «mantém as pessoas na linha». Três estrelas. Publicou a Elsinore.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

CENTENO, THE BEST


Mário Centeno, ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, foi considerado Ministro das Finanças do Ano, na Europa, pela revista inglesa The Banker.

A revista destaca a bem-sucedida resolução de negociações delicadas envolvendo os ministros das Finanças da zona euro, o acerto na gestão e prevenção de futuras crises financeiras (com sucesso em dezenas de assuntos), bem como as significativas reformas na área da moeda única.

Contra as previsões inquinadas dos avençados do apocalipse, Centeno, o menino feio que resgatou o PS da sina do despesismo, fez a quadratura do círculo. A caterva de comentadores de economês com lugar cativo nas televisões e outros media, bem pode limpar as mãos à parede.

The Banker pertence ao grupo Financial Times.

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ESPANHA


Se as eleições se realizassem hoje em Espanha, o PSOE seria o partido mais votado, mas seria a Direita a governar com o apoio da extrema-direita. Uma geringonça à espanhola, portanto.

A soma do PP, CIUDADANOS e VOX representa 50,9% das intenções de voto (e a possibilidade de 189 deputados), enquanto a soma do PSOE e do PODEMOS apenas representa 38,4% (e a possibilidade de 143 deputados). Os pequenos partidos não contam: a soma de todos não chega para colmatar o gap.

Vendo os três gráficos, verificamos que o VOX, de extrema-direita, praticamente não existia há seis meses, e hoje consegue mobilizar quase treze por cento do eleitorado.

É evidente que uma coligação PP+PSOE+CIUDADANOS evitaria ter a extrema-direita a governar, mas a ortodoxia de uns e outros vai optar pela pior solução.

A sondagem foi divulgada hoje por El Mundo. Clique na imagem.

SINISTRO


Fui ler o discurso de posse de Bolsonaro.

Highlights

Hoje, aqui estou, fortalecido, emocionado e profundamente agradecido a Deus [...]

Vamos restaurar e reerguer nossa Pátria, libertando-a definitivamente do jugo da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade económica e da submissão ideológica [...]

Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã [...]

Vamos combater a ideologia de género... O Brasil voltará a ser um país livre de amarras ideológicas [...]

O cidadão de bem merece dispor de meios para se defender, respeitando o referendo de 2005, quando optou pelo direito à legítima defesa [...]

Contamos com o apoio do Congresso Nacional para dar o respaldo jurídico aos policiais para realizarem seu trabalho. [...]

Nossas Forças Armadas terão as condições necessárias para cumprir sua missão constitucional de defesa da soberania, do território nacional e das instituições democráticas, mantendo suas capacidades dissuasórias para resguardar nossa soberania e proteger nossas fronteiras [...]

À margem do discurso: Bandeira vermelha acabou / Nosso país liberta-se hoje do socialismo / Marxismo cultural dos mídia e das universidades vai acabar / Politicamente correcto nunca mais.

Há um ano, isto era uma anedota. Hoje é a realidade. Como a imagem demonstra, o homem tomou mesmo posse, sufragado por dois terços dos eleitores brasileiros.

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terça-feira, 1 de janeiro de 2019

BOLSONARO, DIA UM


Quando forem 16:45 em Portugal, Bolsonaro toma posse como 38.º Presidente do Brasil.

Estão milhares de pessoas na Esplanada dos Ministérios em Brasília, onde o longo cerimonial de investidura já teve início. O esquema de segurança é o maior da história do país. Três partidos representados no Congresso recusaram participar no acto: o PT, o PSOL e o PCdoB.

Com Bolsonaro tomam posse o vice-Presidente, general Hamilton Mourão, o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, e 22 ministros.

Tereza Cristina, ministra da Agricultura, e Damares Alves, evangélica radical [Está na hora de dizer à nação que é a hora da Igreja governar], ministra da Família, Assuntos da Mulher e Direitos Humanos, são as únicas mulheres.

O executivo conta ainda com um almirante, três generais, um tenente-coronel astronauta (Ciência), um teólogo colombiano (Educação), um diplomata de extrema-direita (MNE) e o juiz Moro à frente da Justiça e Segurança Pública.

Martín Vizcarra, Presidente do Peru, que já estava em Brasília, regressou ao seu país.

Marcelo, único Chefe de Estado europeu presente, Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, e Mike Pompeo, secretário de Estado (MNE) americano, são os convidados de maior destaque.

Esta manhã tomaram posse os 27 governadores estaduais eleitos.

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domingo, 30 de dezembro de 2018

MALWARE EM GATWICK?

E se os drones de Gatwick nunca tivessem existido?

E se a paralização de 36 horas consecutivas (entre a noite de 19 de Dezembro e a manhã do dia 21), mais uma hora extra na tarde da reabertura, afectando mais de mil voos e cerca de 200 mil passageiros, tivesse sido consequência de um ataque de malware?

A polícia britânica mantém-se evasiva. O casal preso no dia 22 foi libertado com pedido oficial de desculpas e indemnização. Passaram nove dias e o Governo de Sua Majestade nada esclarece. Os rumores avolumam-se.

Os ataques de malware são formas de terrorismo como quaisquer outras. Ainda nenhum ciberataque tinha sido tão espectacular como o da Coreia do Norte à Sony, em Dezembro de 2014, mas tem havido outros.

Ainda ontem, todos os jornais do grupo Tribune Publishing (costa oeste dos Estados Unidos) ficaram impedidos de circular devido a um ataque de malware.

Como dizia o outro, no creo en brujas, pero que las hay, las hay.