sábado, 2 de abril de 2016

E ESTA?


E nós a pensarmos que tinha sido a Assembleia da República. Ao fim de cinco meses, o Público reescreve a História. Clique na imagem.

OBSCENO

Bater no fundo significa que o fundo afunda. O fundo cede todos os dias. Isto vale para os media em geral, mas em particular para a televisão. Deixou de ser possível ver noticiários. A manipulação atinge níveis que fazem do PREC um recreio infantil. Até porque no PREC era só a RTP e agora temos dez canais com notícias em português. O modus operandi, que já era mau, piorou desde as eleições de Outubro. Não me refiro aos espaços de comentário, monopolizados por corifeus da Direita (e, para disfarçar, por três ou quatro personalidades do centro-Esquerda incapazes de contrariarem o agitprop dominante), estou a falar de notícias, que são hoje quase sempre “notícias”, torcidas para lá do limite da decência. Sirva de exemplo a forma como o último relatório do FMI tem sido divulgado. Que a SIC se tenha transformado no órgão oficioso do PSD é um trágico sinal dos tempos.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

BANIF

Uma pessoa ouve e lê e fica atónita. A sessão de ontem da Comissão de Inquérito ao Banif pôs a nu a realidade do banco da família Roque: «É preciso contar o que era o Banif em 2012, e era um banco muito, muito mau. Era péssimo. Tinha uma estratégia errada. Mais do que duplicou a presença no país, tinha feito investimentos disparatados no Brasil, em Espanha e em outras latitudes. Estava concentrado em meia dúzia de grandes clientes e em investimento imobiliário. Não tinham sistema informático. Não tinham sistema de avaliação de risco...», etc.

Quem o disse foi António Varela, o administrador que Vítor Gaspar convidou para representar o Estado no Banif. Mas Varela foi também, até ao passado dia 7, vice-governador do Banco de Portugal, com o pelouro da supervisão entre 2014 e a sua demissão.

Lembrar que, em 2013, o Governo PSD/CDS injectou 1,1 mil milhões de euros no Banif. Em 20 de Dezembro de 2015, já com o Governo PS em funções, o Banif foi alvo de Resolução antes de ser vendido ao Santander por 150 milhões de euros. Nos termos em que foi feita, a venda terá sido imposta pelo BCE. Na prática, Varela chamou mentirosa a Maria Luís Albuquerque — «Longe de mim chamar mentirosa à senhora ex-ministra» —, que terá «edulcorado a verdade» junto das instituições europeias.

quinta-feira, 31 de março de 2016

ZAHA HADID 1950-2016


Morreu hoje a arquitecta Zaha Hadid, nascida em Bagdade mas naturalizada britânica desde os anos 1960. Além de outros prémios, Zaha foi a primeira mulher a receber o Pritzker (recebeu-o em 2004) e a medalha de ouro do Royal Institute of British Architects. Filha de um dos fundadores do Partido Nacional Democrático do Iraque, Zaha deixou o país de origem com 9 anos de idade, tendo estudado na Suíça e na Inglaterra antes de formar-se em matemática na universidade americana de Beirute. De seguida, estudou arquitectura em Londres. Foi aluna e mais tarde associada de Rem Koolhaas. Obras suas encontram-se espalhadas um pouco por todo o mundo: Londres, Oxford, Glasgow, Manchester, Paris, Marselha, Montpelier, Roma, Berlim, Hamburgo, Leipzig, Barcelona, Saragoça, Innsbruck, Copenhaga, Hong Kong, Tóquio, Osaka, Abu Dhabi, Baku, Pequim e Los Angeles, são algumas das cidades onde se podem ver. Zaha morreu em Miami, de ataque cardíaco. Tinha 65 anos.

HELENA VASCONCELOS


Hoje na Sábado escrevo sobre Não há Tantos Homens Ricos Como Mulheres Bonitas Que os Mereçam, de Helena Vasconcelos (n. 1949). Radiografar a contemporaneidade pelo crivo do imaginário de Jane Austen não é para todos. Mas a autora arriscou e o resultado é uma obra peculiar, de recorte envolvente. O título adopta uma das frases-chave de Mansfield Park. Dividido em três partes, os Livros I, II e III, o romance confronta a actualidade com as idiossincrasias da Era Austeniana. Não o faz por artifício. Trata-se de pôr em pauta o lugar da mulher na sociedade. Com desembaraço, Helena Vasconcelos faz um tour d’horizon ao universo de Austen, estratagema que ajuda a fixar o retrato de Ana Teresa, heroína apostada em «valorizar a sua própria banalidade». Não é inocente que Ana Teresa, sendo portuguesa, tenha origem estrangeira. Nem surpreende que essa circunstância sirva para sublinhar temas como género e identidade, centrais ao ensaísmo de Helena Vasconcelos. O facto de Ana Teresa viver longe dos pais (cada um em seu país), e ter sido criada a partir dos dez anos pela avó paterna, Marianne DeWelt, mulher de convicções fortes e hábitos permissivos, faz dela, na segunda década do século XXI, uma outsider da Lisboa convencional das Avenidas Novas. Aqui chegados, já o leitor estabeleceu pontes com o legado de Austen, feminista avant la lettre que escreveu sobre o quotidiano daquela parcela do mundo que, ao mesmo tempo que preservava o equilíbrio do tecido social, escapou à devastação napoleónica. A autora calibra o plot com a naturalidade e a segurança de quem relata uma história linear. Ora o romance de Helena Vasconcelos será tudo menos linear. Veja-se como do Livro I para os seguintes o tempo da narração sofre uma forte guinada. Afinal, nem tudo é como na pacata Steventon. Verdade que a clave irónica da close reading austeniana transforma o livro em obra aberta, pós-modernista em sentido amplo. Drible perfeito: com material na aparência “fútil” se fez um belo romance de ideias. Nada de confusões com a empáfia indígena que todos os dias presume ter descoberto a roda. Cinco estrelas.

Escrevo ainda sobre A Mulher, de Meg Wolitzer (n. 1959), nome de culto da ficção contemporânea americana. Neste caso, a mulher significa “mulher de”. Trata-se de nova tradução de um livro publicado há vários anos. Com Os Interessantes, de 2014, quem não conhecia a autora ficou ciente de uma escrita sarcástica não isenta de humor. A Mulher, de 2003, corrobora a consistência da obra desde os primórdios. Sentada na primeira classe de um avião, Joan decide deixar Joe, o professor de cabelo preto despenteado por quem se apaixonou, o marido que tenciona deixar. Está emborrachada mas sabe o que quer. Joe Castleman vai a Helsínquia receber um prémio literário, e Joan cansou-se de ser “a esposa”. Teve graça enquanto foram amantes (ele era casado no tempo em que ela foi sua aluna), agora a relação estiolou. Podia ser o guião de uma soap, mas Wolitzer é uma escritora de mão cheia, dominando bem todos os recursos expressivos. A ironia é de regra. Sobre outra mulher: «O seu cabelo era da cor de um envelope almofadado». Acerca do milieu literário há comentários de antologia. A ler. Quatro estrelas. Publicou a Teorema.

EM SETEMBRO FALAMOS


Quanto se sabe pelos media, Sócrates começou a ser investigado em Maio de 2013. Foi preso a 21 de Novembro de 2014, ao chegar a Lisboa vindo de Paris. Alegou o MP que existiam indícios sérios e provas irrefutáveis para deter o antigo primeiro-ministro. Afinal, 18 meses de investigação não é coisa pouca. Facto é que, passados 34 meses, o MP não consegue deduzir acusação contra Sócrates, que esteve preso em Évora durante 9 meses e 11 dias, situação que se prolongou em regime domiciliário até 16 de Outubro de 2015, ou seja, até terem passado 12 dias das eleições legislativas. Agora, o director do DCIAP estipula o próximo 15 de Setembro para deduzir acusação, embora essa deadline possa ser prorrogada. Mas contra isto eu não vejo votos de protesto.

A manchete é do Diário de Notícias. Clique.

IMRE KERTÉSZ 1929-2016


Morreu hoje em Budapeste o escritor húngaro Imre Kertész, Nobel da Literatura em 2002. De origem judaica, foi internado em Auschwitz com 14 anos de idade. O primeiro livro que publicou, Sorstalanság (1975), publicado em Portugal com o título Sem Destino, relata a experiência do autor nesse campo de extermínio de onde foi libertado em 1945. Uma das suas obras mais conhecidas, Aniquilação (2003), editado em Portugal pela Ulisseia, foi escrita quando o autor atravessava um período de depressão. Figura polémica nos círculos intelectuais húngaros, Kertész tinha 86 anos e sofria da doença de Parkinson.

terça-feira, 29 de março de 2016

DESEMBARCARAM

Está consumada a ruptura. O PMDB retirou os seus militantes do Governo e de todos os departamentos do Estado. A decisão foi formalizada na Câmara de Deputados, em Brasília, há cerca de duas horas.

Numa situação normal, Dilma teria que arranjar cinco novos ministros e dois secretários de Estado. E preencher centenas de cargos em todas as esferas da administração pública. Mas, sem apoio parlamentar, o Governo fazia o quê? Sendo a situação o que se sabe (o processo de impeachment está a acelerar, Lula pode ser preso, etc.), tudo pode acontecer.

DESEMBARQUE

Parece que é hoje que o PMDB retira os seus ministros e secretários do Governo Dilma. No Brasil chama-se a isso “desembarcar”. Ministros são cinco: Marcelo Castro (Saúde), Celso Pansera (Ciência, Tecnologia e Inovação), Eduardo Braga (Minas e Energia), Henrique Alves (Turismo), que desembarcou ontem pelo seu pé, sem esperar pela ordem do partido, e Kátia Abreu (Agricultura), embora Kátia, amiga íntima de Dilma, talvez não desembarque, mas se ficar terá de desvincular-se do PMDB. Secretários são dois: Mauro Lopes (Secretaria de Aviação Civil) e Helder Barbalho (Secretaria de Portos). O cerco aperta.

segunda-feira, 28 de março de 2016

OE 2016

O Presidente da República promulgou hoje o OE 2016. Falando ao país por volta das cinco da tarde, Marcelo disse, em síntese: «Os portugueses precisam de saber aquilo com que contam. Depois de ter lido o Orçamento, não encontrei dúvida que justificasse pedir a fiscalização junto do Tribunal Constitucional. Este documento resulta da convergência da maioria da Assembleia da República e das instituições europeias, que o aceitaram. O Orçamento abre uma nova fase da vida nacional, porque os países não podem viver permanentemente em campanha eleitoral. É preciso viver em estabilidade.» Após cinco anos de akrasia, regressa a normalidade democrática.

CARNIFICINA

Um porta-voz do grupo taliban Jamaat-ul-Ahrar reivindicou a carnificina de ontem, num parque público de Lahore, no Paquistão. Disse Ehsanullah Ehsan: «We have carried out this attack to target the Christians who were celebrating Easter.» Muito claro: o alvo eram os cristãos que celebravam a Páscoa. Estão confirmados 72 mortos e mais de 300 feridos. O horror não está confinado à Europa.