quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

BOB DYLAN


Hoje na Sábado escrevo sobre Crónicas, de Bob Dylan (n. 1941), autor que corrobora o que a Antiguidade Clássica nos ensinou: todo o poeta é um cantor. Só um profundo desconhecimento do que é a poesia justifica a celeuma gerada em torno da atribuição do Prémio Nobel da Literatura. Afinal, a poesia começou por ser cantada. Crónicas, agora reeditado, é o primeiro volume das memórias do homem que deveio porta-voz de uma geração. Começa com a chegada a Nova Iorque em 1961: «O que quer que eu andasse a fazer estava a dar resultado, e eu tencionava continuar assim. Sentia que estava a chegar a algum lado.» Numa prosa escorreita, Dylan descreve peripécias da sua vida pessoal, o quotidiano de Manhattan, em especial o milieu do Village, encontros com artistas e poetas, detalhes relacionados com a música que escreveu, política americana, o activismo de Joan Baez, retratos de terceiros, provocações dos media, como quando a revista Esquire publicou «um monstro de quatro caras» — a sua, misturada com as de Malcolm X, Fidel e Kennedy. Aguardar a reedição da sua poesia completa, do curioso livro que é Tarântula e, já agora, dos seis volumes de ensaios sobre arte. Quatro estrelas. Publicou a Relógio d’Água.