A forma como tanta gente tem reagido à queda de Cabul, invectivando Washington, leva-me a alinhavar alguns comentários.
Na sequência do 11 de Setembro, o Afeganistão não foi ocupado pelos Estados Unidos, foi ocupado pela NATO, sob liderança norte-americana (a Austrália, que não é membro da NATO, também integrou a coligação). Não esquecer que, ao longo dos últimos vinte anos, Portugal teve forças no terreno.
Os que hoje lamentam a falta de solidariedade americana pela população afegã, acaso manifestaram solidariedade com as populações de Angola, Guiné, Moçambique, etc., durante a descolonização exemplar...? Alguém falou ou fala dos campos de reeducação que a Frelimo manteve em Nachingwea, Bagamoyo e Mitelela? Alguém se lembra das vítimas da reeducação, na sua maioria moçambicanos negros? Falo desses campos no meu livro de memórias, mas não sou o único. Ungulani Ba Ka Khosa, nome tsonga de Francisco Esau Cossa, também o faz no seu livro Entre Memórias Silenciadas (2013), como antes dele fizera o historiador João Paulo Borges Coelho em Campo de Trânsito (2007). Em Portugal alguém quis saber?
Biden disse, por outras palavras: Estamos fartos! Acabou. Se não estava a debitar a cartilha do MRPP — Nem mais um soldado para as colónias —, andou lá perto.
Os que andam há décadas a demonizar «a América» não podem agora querer virar a História do avesso.